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Como se fosse um complô contra o Rio

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Editorial, Jornal do Brasil

RIO - Quase sempre é preciso contar as pilhas de mortos em tragédias como a do Rio de Janeiro esta semana para, só então, procurar se saber quem deveria pagar a conta ou tê-lo feito antes do leite derramado. E chega-se, então, à conclusão de que o sofrimento dos cariocas é como a queda de um avião consequência de uma série de situações equivocadas.

O poder municipal e estadual não cuidam da ocupação desordenada dos morros, ou da construção de casas à beira das encostas. Na esfera federal não se fiscaliza se deveria haver mais recursos para uma determinada área de risco. E, na ponta final, o governo não fiscaliza se seu ministro está fazendo corretamente o trabalho.

É o resumo da história relatada por este JB na edição de quinta-feira, dando conta de o Estado do Rio não recebeu nem um centavo dos R$ 318 milhões reservados para este ano pelo Ministério da Integração Nacional para obras de prevenção a desastres. Só isso já seria esquisito. Mas a situação ainda se obscurece um pouco mais quando se sabe que o estado campeão no recebimento de recursos preventivos foi a Bahia, estado natal do ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), a cujo governo concorrerá nas próximas eleições. A impressão que dá é que quem deveria tomar conta, na verdade tomou a conta.

Uma justificativa dada para o problema foi que as obras do PAC e as emendas parlamentares puxaram os recursos para o lado baiano. Mas o Rio não teve obras do PAC? Será que não houve emendas parlamentares propostas pela bancada fluminense?

Outra explicação que circula nos corredores do ministério foi a de que o Rio não solicitou os tais recursos para prevenção. Admitamos que seja fato: será que os técnicos do ministério não têm estudos ou conhecimento prévio de que o Rio precisava desse dinheiro? Se um governante comete um erro, a instância superior tem de lavar as mãos e manter o erro? Se uma criança que ainda não sabe falar não nos pede comida, deixamos de alimentá-la, permitimos que morra à míngua?

Admitamos ainda a conhecida presunção de inocência, no caso de Geddel, que ele tenha cometido um erro ao atender com mais ênfase os pedidos da Bahia. Erros são humanos e acontecem. Mas, quem, então, fiscaliza o Ministério? Quem pode impedir um erro dessa natureza? O presidente Lula, que tanto se preocupou durante seu governo com os menos favorecidos o que lhe confere uma popularidade inacreditável num fim de segundo mandato não tem conhecimento do que é feito, no macro, com o dinheiro público? Mais: é quase impossível não lembrar da questão da divisão dos royalties do pré-sal, em que o Rio pode vir a ser novamente muito prejudicado? O que está em curso, um complô contra a ex-capital do país?

A mesma reportagem relata que a caridade com o Rio foi enorme na hora de reparar os estragos feitos pela natureza. Puxados também pela tragédia em Angra dos Reis, no primeiro dia do ano, o Estado já recebeu R$ 59,3 milhões. Ou seja, em terras fluminense não vale o ditado é melhor prevenir do que remediar . E, por mais que se tente apontar culpados ou justificativas, não há explicação. Pelo menos não que satisfaça as famílias de quem se foi com as águas ou que traga as vidas de volta.