José Galvão-Alves, Jornal do Brasil
RIO - O pâncreas é uma glândula exócrina e endócrina, isto é, secreta enzimas para dentro do duodeno e hormônios para a circulação sanguínea.
As enzimas pancreáticas são essenciais para a digestão e absorção dos alimentos ingeridos, em especial das gorduras (função exócrina), e os hormônios têm inúmeras funções, sendo a mais relevante o controle da glicemia (glicose no sangue) desempenhada pela insulina e glucagon (função endócrina).
A inflamação desta glândula pode se dar de forma aguda (minutos/horas) ou crônica (anos) o que denominamos de pancreatite aguda e crônica, respectivamente.
A pancreatite aguda tem como principal causa os cálculos da vesícula biliar (colelitíase) e a pancreatite crônica relaciona-se mais comumente ao uso abusivo e constante do álcool.
A pancreatite aguda biliar, causada pela migração de cálculos da vesícula constitui uma urgência abdominal e pode apresentar-se de duas formas: a primeira mais freqüente (80-90%) é benigna, evolui de maneira favorável e em torno de uma semana de internação hospitalar o paciente encontra-se bem e a retirada da vesícula biliar (colecistectomia) por videolaparoscopia impedirá futuros episódios de pancreatite aguda biliar.
Já a segunda forma de apresentação, denominada grave, cursa com necrose da glândula pancreática e gordura peripancreática e provoca uma inflamação disseminada na economia humana com insuficiência de órgãos (renal, pulmonar e circulatório) e alta mortalidade.
A pancreatite aguda manifesta-se por dor abdominal intensa, geralmente no abdômen superior podendo ser referida na região dorsal acompanhada de náuseas e vômitos e distensão abdominal. O paciente procura o pronto-socorro e seu diagnóstico é confirmado através da dosagem sanguínea das enzimas pancreáticas (amilase e lipase) que estarão elevadas e da tomografia computadorizada de abdômen com contraste venoso.
Portanto a tríade de diagnóstico é dor abdominal, enzimas pancreáticas elevadas e alteração estrutural do pâncreas à tomografia computadorizada de abdome.
O diagnóstico da etiologia biliar deve ser feito através da ultrassonografia transabdominal, melhor método para avaliar cálculo de vesícula. Mais raramente, teremos que lançar mão da colangiografia por ressonância magnética ou da ecoendoscopia biliopancreática para identificarmos microcálculos
Já a pancreatite alcoólica aguda melhor definida como pancreatite crônica agudizada pois, ocorre geralmente naqueles que são etilistas crônicos, tem seu diagnóstico pela história clínica (anamnese) onde o paciente ou familiar nos informarão sobre o uso constante de álcool
O tratamento da pancreatite aguda deve ser conduzido por médicos experientes nesta condição, em hospital que possa contar com um bom Centro de Terapia Intensiva (CTI) e serviço de nutrição enteral e parenteral adequados.
O paciente ficará por alguns dias em dieta zero, hidratação endovenosa, analgesia potente e, nos casos de maior gravidade, deverão ser nutridos por sonda nasoenteral e usar antibióticos venosos, sendo nesta situação lotados no CTI. É pois a pancreatite aguda doença comum, de terapêutica difícil e de morbiletalidade considerável. Apenas equipe e hospital adequados farão desta evolução dramática quadro mais controlado.
José Galvão-Alves
da Academia Brasileira de Medicina*
* Conferência proferida ontem em sessão presidida pelo acadêmico Pietro Novelino, presidente da Academia Brasileira de Medicina