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A luta continua

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Carlos Eduardo Novaes *, Jornal do Brasil

RIO - Os inimigos do estado deixaram o Rio de Janeiro pendurado na broxa. Retiraram-lhe uma escada de 7 bilhões de reais com que ele vinha pintando seus sonhos dourados, para distribuir os degraus entre os 25 irmãozinhos que na sua maioria nunca viram um barril de petróleo. Tá lá na Constituição que não pode se tratar igualmente os desiguais! De que adiantou o esforço histórico para nos tornarmos o maior produtor de gás e óleo do país? O que fizeram com o Rio foi mais ou menos como se dissessem para o Eike Batista que agora ele teria que dividir sua fortuna com os vizinhos!

Não tenho dúvidas de que, se fossem os estados do Amapá ou Roraima, ninguém pensaria em mexer nos royalties. São estados modestos, esquecidos nos confins do extremo Norte e certamente despertariam a comiseração dos deputados. Mas o tratamento para o Rio de Janeiro é diferente! O Rio é a joia da coroa; os caras olham lá de Brasília nossas praias cheias durante a semana e pensam que estamos nadando em dinheiro.

A decisão da Câmara não esconde uma pontinha de inveja. Como insinuou um deputado: Já não basta o estado do Rio abrigar a Cidade Maravilhosa, abrir a Copa de 2014, sediar a Olimpíada de 2016 e ainda quer botar 7 bilhões no bolso? É demais! Onde fica o principio federativo da nação? . Aposto, porém, que quase todos os 369 parlamentares que votaram contra o Rio têm seu apartamentozinho na Avenida Atlântica e adjacências para virem gozar com passagens cedidas pelos contribuintes as delícias da cidade.

A aprovação da emenda foi uma brincadeira (de mau gosto) com o Rio e o Espírito Santo, amém. Nem precisava ser posta em votação. Imagina se algum deputado iria votar contra a possibilidade de engordar os cofres de seus estados e municípios em um ano de eleições! Além de baterem a carteira do Rio de Janeiro, eles provocaram estragos laterais. Os comerciantes trataram de aumentar os preços e os ladrões mal informados intensificaram seus roubos antes que os 7 bilhões desçam pelo ralo e a cidade fique dura, na miséria.

Que se preparem, porém, os fariseus! Somos um estado pequeno, minúsculo até, se comparado ao Pará, ao Amazonas, mas acumulamos uma história de lutas que vem de longe. Para nós, cariocas, não tem tempo ruim. Nem tamanho é documento. Não fossem nossos voluntários da pátria, e o Brasil hoje seria uma província paraguaia. O país deve muito mais do que 7 bilhões ao Rio, mas isso os senhores deputados não levaram em conta (quantos conhecem história do Brasil?). Às vezes penso que eles alimentam um desejo secreto de transformar o Rio em um Haiti tupiniquim.

Mas nós resistiremos! Temos resistido a tudo, à mudança da capital, a assaltos, apagões, enchentes, garotinhos, e não será a emenda de um deputado que jamais deveria ter retornado à vida pública (vide Arruda) que irá nos nocautear. Como disse a espanhola Dolores Ibarruri: É melhor morrer em pé do que viver de joelhos! .

Estamos organizando um movimento de resistência que pretende ir às últimas consequências. Se preciso for, iniciaremos uma guerra da secessão para tornar o Rio de Janeiro um país independente do Brasil. O movimento já tem seu slogan pronto: Independência ou praia! Caso sejamos derrotados, fecharemos nossos poços, deixaremos de trabalhar, e vamos todos para a praia. Quero ver o que vai sobrar de royalties para eles dividirem!

* Escritor