Bayard do Coutto Boiteux e Mauricio Werner, Jornal do Brasil
RIO - O Brasil, infelizmente, não tem conseguido aumentar o número de turistas estrangeiros que nos visita, apesar de todos os esforços promocionais do governo federal, sobretudo aqueles oriundos do Plano Aquarela. Não recebemos nem sequer um por cento de todos os turistas internacionais que viajam pelo mundo. O governo resolveu apenas falar em receitas geradas pelo turismo, sem mencionar o fluxo quantitativo.
O Plano Aquarela, que conceitualmente traz ações pontuais nos mercados prioritários, não apresenta nenhuma inovação nas formas de promoção. Repete programas anteriores como escritórios no exterior, tours de familiarização, press trips e participação em eventos internacionais. Tal fórmula é a mesma apresentada nos últimos 20 anos, e não nos trouxe aumento significativo de consumidores. Ao analisar o Plano Aquarela, vejo exatamente o trabalho revolucionário, à época, de Oswaldo Trigueiros e Glória Britto Pereira, na Funtur, mas, que para nossa tristeza, não evoluiu.
O trabalho das grandes empresas de turismo, com raras exceções, não tem nenhuma criatividade, nem no formato nem na inovação. Eventos de turismo discutem os mesmos problemas, quase sempre ligados a comissionamento de empresas aéreas.
Estamos no século 21 e precisamos mostrar uma nova cara ao mundo globalizado. Não a de programas assistencialistas, baseados numa filosofia política ultrapassada, mas num país que possui grandes talentos e pesquisadores, que podem revolucionar a atividade com base na criatividade.
O mundo ainda nos percebe como um grande balneário, repleto de música e futebol. Pouco avanço houve numa promoção de nossa gente e de nossos valores culturais. A segmentação passa por uma efetiva visão do potencial local ancorado em tendências como as experiências culturais, o viajar por conta própria e a internet, como instrumento de escolha de produtos, com verdadeiras viagens virtuais com visão prévia de nossos sonhos. Estamos muito, muito longe, de tal realidade: cidades mal sinalizadas turisticamente, falta de centros de informações turísticas, inexistência de um toll free em vários idiomas, funcionando 24 horas, para orientar o turista. É tão pouco e já fizemos tais sugestões inúmeras vezes. Não seria mais evidente cuidar melhor de dita infra-estrutura primária, para depois promover melhor e com uma nova política para os fluxos que aqui chegam?
É triste. E desculpe novamente a utilização de tal expressão: não vermos um efetivo benchmarketing, com destinos que estão dando certo e que poderiam nos ajudar. Chega de tanta foto e tanto sorriso de autoridades e vamos passar para um trabalho efetivo.
Nos últimos anos, vimos nascer os Embaixadores do Rio, os cafés da manhã com o corpo consular, os seminários educacionais para vendas de destinos, o Rio é de vocês, Rio Convention and Visitors Bureau sem um aproveitamento melhor do poder público. Cada governo quer apenas dizer o que está fazendo e desconhecer o passado do turismo. Em sã consciência ninguém pode ignorar a revolução nas gestões Caio Luiz de Carvalho, João Dória Junior, Miguel Colassuano, Roberto Gherardi, Trajano Ribeiro, Alfredo Laufer, para citar apenas alguns exemplos. Não seria vital criar um conselho de notáveis que pudessem se posicionar? Vejo no Conselho de Turismo da CNC uma voz que quer colaborar e que pode, sem conotação governamental, ser uma forma de assessoria nas políticas públicas e privadas de turismo.
Precisamos nos conscientizar de que o mundo anda muito rápido e que não podemos perder o trem TGV, caso contrário ficaremos fora do circuito internacional, apesar da captação de grandes eventos esportivos, que são momentâneos, e não geram um aumento real de turistas nos anos subseqüentes.
Vamos olhar para os mercados mais próximos e investir mais no Mercosul e na preparação de nossos recursos humanos para recebimento de tais visitantes, como faz muito bem o Estado de Santa Catarina. Nossa preparação tem que ser mormente presencial e não à distância. É pouco provável que cursos de idiomas ministrados pela internet possam trazer melhorias reais.
Não quero ter uma visão pessimista mas, com a proximidade das eleições e as visões de crescimento de 100% de turistas em 10 anos, apresentadas no Rio, pelas autoridades federais, que não não condizem com a realidade que se nos apresenta, precisamos mudar.
É uma reflexão, de alguém que com muita humildade e parcimônia deseja colaborar e quer ver um Brasil diferente na percepção de possíveis compradores do produto mas sobretudo que a Lei Geral do Turismo, o PNT e o Plano Aquarela possam ajudar no aumento de turista e no market share.
Bayard do Coutto Boiteux é escritor, presidente do site Consultoria em Turismo e coordena os cursos de turismo e hotelaria da UniverCidade, no Rio, e Mauricio Werner é presidente da Planet Work.