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O presidente europeu e seus problemas

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Marcelo Medeiros, Jornal do Brasil

RIO - Dizem que o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, em determinada ocasião, teria dito, sarcástico: Europa. Tudo bem..., mas qual é o número do telefone?

Na semana passada os 27 chefes de governo da União Europeia elegeram por unanimidade um presidente da Europa, para um mandato de dois anos e meio, com direito a reeleição por igual período, e com poderes efetivos. Ao contrário do que existe hoje, quando os líderes têm poder simbólico.

O presidente eleito foi o primeiro-ministro da Bélgica, o flamengo, democrata-cristão Herman Van Rompuy, formado em economia.

Van Rompuy, com 62 anos, é um homem gentil, mas apagado, e sem qualquer carisma. No entanto, os países que o elegeram o consideram um homem equilibrado e de enorme bom-senso. Apaziguou os belgas, divididos há mais de mil anos, entre valões, de origem francesa, e flamengos, descendentes dos holandeses.

O que prevaleceu, entretanto, foi o fato de ele preencher os requisitos acordados entre os países eleitores de que o presidente da Europa deveria ser de um país pequeno e de centro-direita.

Para o segundo cargo em importância na presidência europeia um misto de vice-presidente e chefe da diplomacia da Europa foi eleita a diplomata inglesa Catherine Ashton, baronesa de Upholland, com 53 anos, ex-presidente da Câmara dos Lordes, que, segundo o mesmo acordo, deveria ser de origem socialista ou trabalhista.

As escolhas de Rompuy e Catherine facilitaram o pacto entre os partidos de direita e de centro-esquerda, fazendo com que vários políticos europeus retirassem suas candidaturas. Inclusive Tony Blair, considerado, até dois meses atrás, praticamente eleito, com o apoio da Grã-Bretanha, França, Alemanha e Itália. Escolheram um presidente de perfil negociador, em detrimento de um líder brilhante como o ex-primeiro-ministro britânico.

Os novos dirigentes europeus vão tomar posse a partir de primeiro de dezembro, após a entrada em vigor do Tratado de Lisboa, versão light da Constituição Europeia, que foi recusada pelos franceses e holandeses em 2005.

Eles terão como problemas mais graves o desemprego, que deve permanecer acima dos 10% nos próximos anos; a dependência externa da energia consumida pelos europeus; e o mais urgente: a imigração.

A imigração representa uma das principais preocupações dos governantes da Europa, apesar de os europeus precisarem de milhares de imigrantes para enfrentar o envelhecimento do seu povo.

Todos os dias, centenas de pessoas deixam seus países, com a esperança de fugirem da miséria ou dos conflitos armados, para aventurarem uma vida mais promissora, em algum país desenvolvido.

A União Europeia, em contrapartida, aumenta o controle de suas fronteiras e procura manter os estrangeiros cada vez mais afastados.

O primeiro-ministro Zapatero, da Espanha declarou: Estamos em uma situação alarmante; ou ajudamos a África a lutar contra a pobreza extrema, ou o nosso Estado social estará em perigo .

Na Inglaterra, uma recente pesquisa de opinião revelou que seis entre dez ingleses defendem mais rigor no controle da imigração.

A França ou a Europa não vão aceitar toda a miséria do mundo , afirmou Sarkozy.

Hillary Clinton, atual secretária de Estado americano, terá, a partir de primeiro de dezembro, dois números de telefone para ligar. Infelizmente, para interlocutores inexpressivos.

Marcelo Medeiros é jornalista.