Editorial, Jornal do Brasil
RIO - É bem-vinda a colaboração que a Organização das Nações Unidas (ONU) dará às autoridades competentes brasileiras no combate à violência no Rio de Janeiro. Os acontecimentos recentes na cidade são uma prova de que toda comunhão de esforços deve ser buscada pelas forças de segurança pública. Nenhuma ajuda deve ser descartada. O antigo isolamento dos governos do Rio municipal e estadual em relação à esfera federal já está superado. Que se aproveite então a nova conjuntura política favorável à ação coletiva dos níveis de governos.
Bons frutos dessa parceria podem surgir, atraindo novos colaboradores, com novas ideias e novos métodos de ação. Exemplo disso é a iniciativa do Ministério da Justiça em promover a aproximação da ONU com autoridades envolvidas com a Olimpíada de 2016. Em visita à cidade na última segunda-feira, o novo coordenador do programa Cidades Mais Seguras do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), o colombiano Elkin Velásquez, revelou que a instituição vai desenvolver projetos de mediação de conflitos em comunidades carentes brasileiras. Além do Rio, o programa atingirá inicialmente mais duas comunidades-piloto, uma em São Paulo e outra provavelmente no Nordeste.
Durante o encontro, Velásquez classificou o Rio como a nova Medellín , em referência à cidade colombiana que foi dominada por poderosos cartéis do tráfico de drogas. A comparação despertou críticas. O presidente da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), Wadih Damous, contra-argumentou, dizendo que nem em seus piores momentos o Rio esteve perto do que acontecia na cidade da Colômbia. Damous defendeu ainda que, apesar do grave quadro de violência e de insegurança, o problema deverá ser superado por nós mesmos e não com intervenção externa , como ocorreu no país vizinho.
É certo que a extrema gravidade do tráfico de drogas na Colômbia levou o país a uma associação dependente com os Estados Unidos, inclusive permitindo a instalação de forças americanas em bases militares no país. Trata-se de um caso atípico, em que realmente se mostra a fragilidade do Estado em combater a criminalidade com suas próprias forças. Mas não é nisso que consiste a cooperação de programas como o da ONU.
A ação a ser realizada, dentro do programa Cidades Mais Seguras, prevê um trabalho complementar de prevenção da delinquência e da criminalidade, especialmente nas favelas. Segundo Velásquez, que também foi assessor da prefeitura de Bogotá, o projeto em Medellín buscou as comunidades onde estava o foco da violência. E nestas se desenvolveu um trabalho de trabalho de integração, que melhorou a convivência entre as pessoas e reduziu os índices de violência.
O papel do programa da ONU cujo volume de recursos será divulgado em três semanas é o de prestar consultoria e mediar os conflitos entre os moradores, com o objetivo de prevenir e evitar situações que possam levar a crimes.
À parte comparações mais ou menos infundadas com Medellín, é uma ação que deve ser testada, desde que articulada com outras iniciativas dos setores de segurança.