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É preciso controle e transparência na PM

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Rodrigo Pimentel *, Jornal do Brasil

RIO - A morte dos soldados Ednei Canavarro e Marcos Stader, após o ataque de bandidos ao helicóptero Phenix 3, da Polícia Militar, há uma semana, provocou tamanha comoção nacional que abriu para a PM do Rio uma oportunidade única de resgatar a credibilidade da corporação. Mas bastou vir à tona o flagrante da atuação de dois policiais no roubo e assassinato do coordenador do AfroReggae Evandro João da Silva para que a janela de oportunidades fosse fechada.

Em qualquer lugar do mundo, a credibilidade da polícia se constrói sob três pilares: salário, coordenação e controle, transparência e credibilidade. A Polícia Militar do Rio não se equilibra em nenhuma das bases desse tripé. A atitude heroica do piloto Marcelo Vaz de Souza, que desviou o helicóptero abatido da casa de moradores em Sampaio, na Zona Norte do Rio, abriu para a polícia fluminense uma grande oportunidade de mostrar a figura humana do policial.

A chance durou pouco e foi perdida. A ação dos seis policiais tripulados naquela aeronave agradou tanto a população, que pouco se questionou o fato de a polícia contar com 40 mil homens para combater o crime no Rio e, mesmo assim, não conseguiu frustrar a invasão de traficantes ao Morro dos Macacos nem impedir o conflito que veio a reboque.

Por isso, a necessidade da transparência e do controle. Hoje, é impossível resolver o problema da segurança pública sem essas ações. No Rio, uma boa parte dos membros da polícia optou por agir às margens da lei. A população se ressente disso. A consequência mais evidente, é o inevitável descrédito da sociedade, embora essa pequena parcela de policiais não represente a Polícia Militar.

Tenho a certeza de que a maioria dos policiais que vestem a farda da instituição não faria a opção que os PMs investigados no crime contra o Evandro fizeram. Diante do trabalho diário da corporação, o que o capitão Denis Leonard Nogueira Bizarro e o cabo Marcos de Oliveira Salles fizeram - se é que fizeram, já que ainda são investigados - é o inusitado em meio às ações da po´lícia. Mas reforça a má impressão da sociedade sobre a instituição.

Por isso, insisto, o comando da Segurança Pública deveria investir pesadamente na restituição da imagem policial. Foi o caminho seguido por Nova Iorque e pela Califórnia, nos Estados Unidos, que hoje têm as polícias mais respeitadas do mundo. Nos anos de 1970, bem antes das ações de Rudolph Giuliani, a polícia novaiorquina sofreu uma profunda reestruturação, com ações voltadas para mudar sua imagem junto à população. E todas essas ações, claro, passaram pela transparência e controle.

Na Califórnia, não foi diferente. A polícia rodoviária californiana, a California Highway Patrol, chegou a ser apontada uma das mais corruptas do mundo. A estratégia de resgate da instituição contou até com a realização do seriado americano CHiPS, criado em 1997, para mostrar a trupe de policiais motociclistas em ação e combate na auto-estrada Goldens State's.

Além de investigar e julgar a ação dos PMs acusados de liberar os bandidos que assassinaram o coordenador do AfroReggae Evandro João Silva, a polícia fluminense tem que investir na auto-estima dos seus integrantes, desenvolver ações de controle sobre eles e dar transparências às suas ações. Não é certo esconder nada da sociedade. Nada.

E quando proponho o controle, estou, sim, falando sobre a instalação de câmeras de vídeo nas viaturas da PM; GPS, para monitorar os passos dos policiais; e, por que não, microfones fixados em seus uniformes. Tudo isso, claro, acompanhado de salários mais dignos. Não há outra forma de combater a corrupção. Sem isso, continuaremos no caos imperante que vivemos: um bando de homens fardados nas ruas, promovendo qualquer ação que não seja segurança pública.

* Sociólogo e ex-capitão do Bope