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O Fluminense está sem alma

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João Ricardo Cozac *, Jornal do Brasil

SÃO PAULO - A equipe do Fluminense atravessa uma das piores crises de sua história recente. Em último lugar no Brasileirão e virtualmente desclassificado da Copa Sul-Americana, o time de Laranjeiras está visivelmente abatido e desmotivado. Se algo não for feito em caráter de urgência, o torcedor tricolor pode começar a esperar pelo pior (se é possível este quadro piorar ainda mais).

Os jogadores não conversam dentro de campo. O time está pesado, como se estivesse carregando o peso do mundo nas costas. Os passes saem errados, os chutes, sem direção. O semblante dos atletas denuncia o desânimo refletido no comportamento apático e pouco (para não dizer nada) estimulante do treinador Cuca.

A culpa desta situação não pode ser depositada em um ou outro atleta. É o resultado de um quadro político, técnico, administrativo, financeiro e organizacional dos mais caóticos possíveis.

Renato Gaúcho não poderia ter sido chamado para comandar a equipe no início do ano após o desastre da perda da Libertadores. Cuca, por sua vez, não tem a personalidade e o comportamento necessários para alterar este pesadelo que parece não ter mais fim. Aliás, pelas declarações do ex-treinador da seleção da África do Sul Joel Santana se convidando para assumir o time carioca, a moral do atual comandante tricolor acabou de vez.

Um trabalho psicológico é mais que necessário para todos os jogadores especialmente para o técnico. Infelizmente, a psicologia do esporte ainda é encarada por muitos do meio futebolístico como um pronto socorro ou, quem sabe, um último recurso para salvar os clubes da degola. Trabalhos de prevenção e promoção da saúde psíquica em atletas é quase uma utopia neste país que vive apagando incêndios emocionais e quedas motivacionais nos meios esportivos e sociais a todo instante.

O Fluminense carece de alma. O time está combalido e desmotivado. Não adianta chamar um motivador de plantão para falar que o Ayrton Senna foi herói nacional ou que o ciclista Lance Armstrong superou três tumores e se tornou o maior vencedor do Tour de France. O tricolor carioca precisa de uma atenção psicológica e emocional especializada. O tempo está passando e, com ele, as chances do Fluminense sobreviver na primeira divisão ficam cada vez mais remotas.

Os jogadores precisam atuar com as chuteiras menos pesadas e retomar a alegria de jogar futebol. Até porque, amigos, a sabedoria de uma bola de futebol jamais pode ser questionada. Ela é capaz de sentir desde a mais pura euforia até o estado de depressão e fragilidade emocional de um grupo que tanto a tem maltratado ultimamente.

O saudoso dramaturgo e jornalista, Nelson Rodrigues, certamente tem a melhor definição para o momento do Flu: Mas, afinal, o que entende de alma, um treinador de futebol?

* Psicólogo, presidente da Associação Paulista da Psicologia do Esporte