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O amor pela arte brasileira

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Alina Maksimátkina, Rússia Hoje, JB Online

REDAÇÃO - A "Escrava Isaura" foi a primeira e mais querida novela da URSS. Em outubro de 1988, quando a Televisão Central começou a exibir o folhetim, o movimento nas ruas parava e os russos corriam para casa para vê-la. Todo o país sofria pela escrava magrinha e de pele branca, que lutava pela liberdade e independência.

Em comparação com outras novelas brasileiras que ocuparam a tela russa tempos depois, " Escrava Isaura" era dotada de toda uma série de virtudes. Em especial, amparava-se literariamente no romance clássico brasileiro do século passado e exibia enorme quantidade de magníficas roupas e acessórios da vida cotidiana , publicou a Ogoniok (Luzinha), outrora a mais prestigiosa revista da URSS, no décimo aniversário do início da exibição da novela nas telas do país.

Discutíamos cada capítulo dessa novela no trabalho, inventávamos e tentávamos adivinhar quais tramas Leôncio urdiria para Isaura, a querida do público, , relembra Ieliéna Miéstieva, funcionária da revista moscovita, de 45 anos.

Variedade de cores nos cinzentos dias úteis soviéticos

A Escrava Isaura era exibida à noite na Televisão Central, e era mostrada também pela manhã. Na época, eram poucos os que sabiam que a telenovela se baseava no romance de Bernardo Guimarães.

Para o telespectador russo daquele tempo, a novela era bastante frívola: o malvado senhor de escravos cortejava abertamente a sua mucama. Mas tudo dentro dos cânones corretos. Este equilibrismo no limiar da violação das regras, certamente, também não proporcionou à novela o status de seriado e, além disso, transmitia os sentimentos , as roupas suntuosas, a decoração e um pouco de beleza proibida para cada casa.

A audiência russa viu, pela primeira vez na televisão, luxuosas casas de campo, onde criados serviam o café da manhã na cama do seu amo, o cocheiro esperava na carruagem, e no jardim trabalhava o jardineiro.

Quando se aproximava a hora da novela e as pessoas ligavam os televisores, na URSS, que ao todo ocupava territorialmente um sexto de toda a terra, aumentava vertiginosamente o consumo de energia elétrica, porque estava sendo mostrada a "Escrava Isaura". Depois da novela, caía bruscamente a pressão na canalização de água em todo o país, e os telespectadores plenos de emoção começavam a se preparar para dormir. E esses fatores tiveram de ser considerados pelas instituições prestadoras de serviços.

Na memória de todos para o resto da vida

Todos se lembram de "Escrava Isaura". Até os homens que na época eram meninos e junto com suas mães ficavam diante das telas, ouvindo o assunto conhecido do tema principal da novela: Na época, eu tinha 6 anos" - relembra o graduado da Universidade Estatal de Moscou - "e minha mãe e a vovó sentiam grandes emoções quando entravam em cena dois personagens positivos. E é bem verdade que não me lembro exatamente quem eram. Naquele tempo, gostava muito de acontecimentos que se desenrolavam impetuosamente. Imaginava o que ocorreria caso se colocasse mais lenha na fogueira .

"Escrava Isaura" penetrou profundamente na cultura da vida cotidiana russa: o tema de abertura centenas de vezes era transposto pelos disc-jockeys (DJs) russos no ritmo techno e house, as datchas na Rússia (de dimensões padronizadas, de 600 metros quadrados) o dia todo eram jocosamente chamadas de fazendas . E entre a geração de adolescentes da época se encontravam moças com o nome de Isaura.

Escrava Isaura deixou uma marca nos corações russos. Depois dela, que provocou um boom de telenovelas, os telespectadores russos assistiram a uma grande quantidade de outras novelas de melhor qualidade, como as mexicanas "Os ricos também choram" e "Simplesmente Maria". Mas "Escrava Isaura" todos relembrarão por toda a vida.

Opinião

Aleksandr Rodniánski, ex-vice principal executivo do canal de televisão de entretenimento STS, presidente do Conselho Curador do Festival de Cinema Kinotavr e produtor independente

Os seriados, na Rússia e no Brasil, são um negócio produzido para entretenimento que reúne grande audiência. Na Rússia, da mesma forma que há 20 anos, as pessoas estão prontas para ligar a TV às sete e meia da noite para assistir ao novo e longo seriado envolvendo história de amor, embuste, paixão e ciúme. Nos seriados populares as tarifas para a publicidade são outras, porque o canal sabe exatamente qual é o nível de audiência que vende para o anunciante.

Os atuais seriados russos não são telenovelas plenas, mas são, basicamente, a adaptação dos clássicos da literatura para a linguagem televisiva. As minisséries são outro gênero. Elas são lançadas também em DVD e vendem bem, como Máster e Margarita.

Parece-me que o segmento sitcom (situação cômica) é muito promissor. É o que sempre será visto, porque oferece o máximo de entretenimento. E a tarefa dos seriados não é deixar o expectador tenso, mas, ao contrário, dar a ele a chance de descansar.