Hasan-Askari Rizvi*, JB Online
RIO - O aprimoramento dos relacionamentos entre os governos da Índia e do Paquistão, e a resolução do conflito de Caxemira, seriam medidas essenciais para fortalecer o papel do Paquistão nas vigentes iniciativas americanas para eliminar o extremismo e o terrorismo no Afeganistão e no Paquistão, bem como de estabilizar esses países.
Isso é especialmente importante porque a liderança civil do Paquistão e os principais líderes militares são unânimes no que tange à visão de todos os grupos do Talibã e seus aliados como ameaça à estabilidade do país e da região. A operação militar no Vale do Swat desalojou o Talibã, e a área está atualmente sob domínio das autoridades civis e militares paquistanesas. O governo do Paquistão iniciou outra operação militar no Waziristão do Sul e começará essas mesmas operações em outras partes das áreas tribais no futuro.
A atenção do governo paquistanês será parcialmente desviada
das áreas tribais e da fronteira do noroeste com o Afeganistão para
a fronteira oriental com a Índia,
caso a tensão entre a Índia e o Paquistão aumente. Esse foi o caso depois do ataque terrorista de Mumbai (em novembro de 2008) quando líderes indianos fizeram duras afirmações contra o Paquistão, moveram suas tropas dos lugares pacificados para mais próximo à fronteira, e brincaram com a ideia de ataques aéreos estratégicos no território paquistanês.
A direita política paquistanesa e os elementos islâmicos buscam suporte nas confusas relações entre a Índia e o Paquistão especialmente no que tange à não resolução do conflito de Caxemira para argumentar que a Índia, e não o Talibã, representa uma ameaça ao Paquistão. Além disso, os grupos militantes com base no Paquistão, conhecidos por seu envolvimento na Caxemira governada pelos indianos, aproveitam-se do beco sem saída que é o conflito para mobilizar apoio popular.
O governo paquistanês acha difícil agir firmemente contra esses grupos militares em um momento em que o relacionamento da Índia com o Paquistão está marcado por um alto nível de hostilidade, mas a Índia está exigindo publicamente que medidas drásticas contra esses grupos sejam tomadas. O aprimoramento dos relacionamentos entre os governos da Índia e do Paquistão e a resolução das principais disputas, incluindo o conflito de Caxemira, tornarão esses grupos militares irrelevantes e aumentarão a habilidade do governo paquistanês de colocar um freio neles.
O governo de Barack Obama está mais apto a ajudar a aliviar a tensão entre os países mencionados e a melhorar as relações bilaterais entre os mesmos porque mantém relacionamento cordial com ambas as nações. Os EUA precisam encorajar a Índia a voltar a colocar em prática o suspenso diálogo composto , englobando oito temas problemáticos, inclusive a questão da Caxemira e o terrorismo.
O Paquistão gostaria que os EUA atuassem como mediadores no caso do conflito de Caxemira, mas isso não é possível porque a Índia se opõe a essa ideia. Entretanto, o governo Obama pode ajudar ambos os lados a manterem diálogos objetivos.
Se as questões menos complicadas que envolvem as disputas nas fronteiras entre os dois países pela geleira de Siachen e pelo Golfo de Sir Creek, bem como a questão da água forem resolvidas, isso facilitaria o caminho para resolver o conflito de Caxemira. O governo americano deve ser ainda mais assertivo ao trabalhar em prol do relacionamento entre a Índia e o Paquistão.
* Analista de defesa no Paquistão
Este artigo foi publicado originalmente no site do Council on Foreign Relations