Mônica Veríssimo *, Jornal do Brasil
PROFESSORA - O Brasil será sede da Copa de 2014, após 64 anos. Desde 1950, muitas coisas mudaram no mundo. As principais bandeiras que levantamos, durante nossa candidatura, estiveram ligadas às questões ecológicas e de inclusão social. Sabemos que Copa do Mundo é vitrine para todo país exibir o que tem de melhor. Logo, devemos aproveitar a oportunidade para, ao entrar em campo com a seleção, estarmos também nos consolidando como nação comprometida com desenvolvimento econômico, justiça social e sustentabilidade ecológica. A Copa pode servir para virarmos o jogo. Podemos e devemos atacar as questões estruturais, as quais já não podem mais ser adiadas ou escondidas embaixo do gramado. Isso exige visão de longo prazo. Só assim a partida será limpa e teremos sucesso antes e depois do jogo.
Foram doze as cidades escolhidas. Manaus (Norte), Cuiabá e Brasília (Centro-Oeste), Curitiba e Porto Alegre (Sul), Rio, São Paulo e Belo Horizonte (Sudeste), Salvador, Recife, Fortaleza e Natal (Nordeste). Cada uma apresentou seu diferencial. Ganhou quem mostrou melhores condições para a partida. Todas mostraram belezas naturais, cultura e o que podem ainda melhorar. A sustentabilidade foi palavra de ordem na construção ou reforma dos estádios. Contudo, a partida só estará ganha se lançarmos jogadas fortes e certas nas áreas ambiental e social.
No ataque aparecem Norte e Nordeste. Manaus deu goleada ao jogar suas florestas intactas contra o Pará, que entrou em campo já com cartão amarelo pelo nível de desmatamento. O slogan é que Manaus terá a Copa mais verde do mundo . É esperar para ver. O Nordeste veio com a ofensiva das praias e do clima favorável. Seus problemas socioeconômicos foram amenizados. Esperamos vê-los equacionados em definitivo. Natal e Fortaleza aparecem na dianteira como centros turísticos mais perto da Europa. Recife se lança a partir da construção de um estádio cercado de Mata Atlântica. Salvador aproveita sua história, enquanto primeira capital do Brasil, e se projeta com praias, igrejas, atrações culturais e gastronômicas, além do seu sincretismo religioso.
No meio campo, o centro-oeste, com Cuiabá e Brasília. A primeira driblou o fato de ser o Estado com o segundo maior índice de desmatamento. Apresentou-se com o slogan da A Copa do Pantanal . Para isso, sua campanha foi cercada de fotos de tuiuius, araras e peixes. Brasília, na equipe, aparece com pouca moral no item apartheid social . Tem o maior do país. Valeu-se de ser a capital e Patrimônio Cultural da Humanidade. E da localização geográfica na parte central do país.
Na defesa, aparecem Sudeste e Sul. São Paulo, embora tenha problemas sérios de mobilidade urbana, impõe-se em campo por ser a única megalópole (mais de 10 milhões de habitantes) e a mais rica. Rio, embora estampe na mídia problemas sérios de violência e tráfico, continua a ser, em termos turísticos, o nosso craque . É considerada a cidade mais conhecida do Brasil no exterior. Belo Horizonte aparece na equipe com problemas no setor hoteleiro e tráfego. Mas, compensou pela força política histórica e cultura. O Sul vem com Curitiba e Porto Alegre. A primeira, embora o estado não tenha uma cobertura florestal de peso, é a cidade campeã em mobilidade urbana. Já a população de Porto Alegre tem na Copa a esperança de ver a construção do metrô, para evitar um caos no trânsito, nos próximos dez anos. Aparece como um bom anfitrião para receber eventos.
Além das questões ambientais, sociais, de mobilidade e infra-estrutura concernentes aos Estados e cidades-sedes, há outro ponto fundamental ligado à sustentabilidade. É a necessidade de tratar o impacto do evento. Em 2006, a Copa da Alemanha gerou a criação do programa Gol Verde. Procuraram reduzir o impacto ambiental causado pelos três milhões de torcedores. As principais atitudes foram economia de água, reciclagem de lixo e redução de emissões, por meio do uso de transporte público e de fontes limpas de energia. Na época, o programa teve a parceria da FIFA e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Na prática, essa iniciativa alemã foi pioneira. Hoje, a FIFA já considera incluir o impacto ambiental do evento na sua política.
Logo, cabe ao Brasil inovar na jogada, ao mostrar ao mundo que sua candidatura está realmente ligada à preservação do meio ambiente e justiça social, mas dentro de uma visão de longo prazo, onde queremos ser titulares no quesito sustentabilidade e Copa Limpa. E que venha mais uma estrela (talvez, quem sabe, seja a sétima)!!!
* Mônica Veríssimo é presidente da Fundação Sustentabilidade e Desenvolvimento