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Senado: de horrores e comparações

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Jornal do Brasil

EDITORIAL - Alguns senadores tiveram uma sexta-feira irritadiça, ao reagirem enfaticamente contra a irônica reportagem da revista britânica The Economist sobre os recentes escândalos do Senado. A ira de parlamentares foi atiçada especialmente pelo sugestivo título da publicação, uma das mais conceituadas do mundo: Casa dos horrores. Com o subtítulo O que os parlamentares britânicos podem aprender com os senadores brasileiros (recentes escândalos também atormentaram a vida do Parlamento da Inglaterra, onde deputados foram pegos usando dinheiro público para pagar contas particulares), a revista lembrou o caso dos atos secretos, a farra das passagens aéreas, a mansão não declarada à receita do ex-diretor Agaciel Maia, os negócios de crédito consignado do neto de José Sarney, José Adriano Sarney, dentro do Senado, e outros exemplos nada edificantes para a imagem da instituição e de seus integrantes. A casa dos horrores, no caso, tem 81 membros mas, de algum modo, requer quase 10 mil funcionários para cuidar deles , conforme lembra a revista. Muitos desses funcionários, cita a Economist, foram apontados como favores a amigos dos senadores ou simpatizantes políticos .

Previsivelmente, muitos senadores se incomodaram. É uma matéria preconceituosa e elitista , atacou o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI). Os jornalistas ingleses deveriam estar preocupados com escândalos semelhantes que aconteceram no Parlamento deles. Cada um tome conta de seus problemas, respeitando a autonomia dos países . Do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), citado na reportagem devido ao empréstimo que teria contraído de Agaciel Maia para pagar gastos numa viagem a Paris: A Câmara dos Comuns não precisa aprender muito pelo que estou vendo aqui. A gente viu coisas terríveis lá também .

Melhor fariam os senadores se, antes da reclamação contra os ataques a eles dirigidos, agissem com mais firmeza contra a profusão de ilícitos que vêm à toma semana sim, outra também. Assegurariam, assim, maiores dividendos à imagem da instituição da qual fazem parte hoje cada dia mais distante do respeito, da admiração e da credibilidade desejável diante do povo brasileiro. Fica difícil defendê-los das críticas da revista. Sobretudo porque se revela equivocada a defesa escolhida pelos parlamentares brasileiros. Questionar a validade da reportagem da Economist pela comparação com o (baixo) nível dos parlamentares britânicos é o mesmo que garantir-lhes salvo-conduto para malandragens domésticas tão-só e simplesmente porque os colegas do outro lado do Atlântico também as produzem.

Ressalte-se, no entanto, que os críticos, estrangeiros ou não, precisam escapar da tentação de cadastrar o Parlamento brasileiro na pasta dos mais odiosos, incompetentes, corruptos e exóticos do mundo. Longe disso. A começar pelas diferenças de modelo entre os legislativos do Brasil e da Inglaterra. O Parlamento britânico, diferentemente do brasileiro, não tem função governativa ou de fiscalização. Tudo se passa ou no âmbito do Executivo ou do shadow cabinet (o ministério paralelo integrado por ministros informais oposicionistas). A despeito das diferenças existentes de modelo, de produção ou de custos a sucessão de episódios negativos em nada contribui para o Senado e os senadores do Brasil. Só há uma via para a correção de rota: a revisão dos costumes e normas que regem os privilégios na Casa. E a punição devida e exemplar aos responsáveis por desvios.