Editorial, Jornal do Brasil
RIO - É bem-vinda a mudança no comando da Polícia Militar do Rio, num momento em que o combate à criminalidade no estado passa por ajustes e, apesar dos esforços empreendidos nos últimos meses, ainda apresenta falhas. Logo na cerimônia de posse, o novo comandante, Mário Sérgio Duarte, avisou que vai devolver às ruas, dentro de uma semana, mil policiais hoje desviados para funções administrativas. Prometeu também dar segurança definitiva às linhas Vermelha e Amarela, além da Avenida Brasil. O cidadão fluminense ciente das dificuldades enfrentadas pelos agentes da ordem no dia a dia, mas ainda confiante no império da lei aguarda ansiosamente o reforço do policiamento ostensivo e o cumprimento dos objetivos ora propostos à bicentenária corporação.
Ex-comandante do Batalhão de Operações Especiais, o Bope (popularizado no filme Tropa de elite), Duarte assume a PM após os 17 meses de gestão do coronel Gílson Pitta, que, pouco antes da cerimônia de posse de seu substituto, afirmou que a corporação fluminense é arcaica por não dispor de um sistema de comunicação eletrônica que integre os batalhões e agilize os processos burocráticos ainda hoje executados em papel. Em plena era da informática, é imperativo que a polícia se utilize de todas as ferramentas à disposição para reduzir a burocracia interna e potencializar sua força de combate ao crime. A criação de um fluxo de informações entre os batalhões, tal qual o já existente entre as delegacias, é outra promessa do novo líder.
O projeto de Duarte prevê que as irregularidades cometidas por policiais sejam julgadas apenas na Corregedoria, e não mais nos batalhões. A intenção é evitar o corporativismo. Unidades da Corregedoria serão espalhadas pelo estado, para dar conta da demanda. O combate à milícia e aos maus soldados também está na mira do oficial, para quem a repressão aos grupos paramilitares (na maioria das vezes integrados por policiais militares) tem de ser modelo na instituição.
Nem tudo será modificado. Dono de um estilo de trabalho mais humanizado, o coronel bacharelando em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro disse que pretende dar continuidade ao modus operandi implantado nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP). Até o momento, quatro comunidades já receberam o novo modelo de policiamento (Santa Marta, Chapéu Mangueira, Jardim Batan e Cidade de Deus), com resultados animadores. Mesclando reforço na segurança com inclusão social, as UPPs vêm demonstrando ser a mais eficiente experiência até agora testada para livrar do controle do crime organizado os moradores de áreas conflagradas. Ciente disso, o coronel Duarte defende que a polícia tenha mais ações de serviço social, que esteja sempre presente nas comunidades e não somente quando há incursões .
A terceira troca de comando da PM no governo Sérgio Cabral não significa portanto uma mudança radical na política de segurança pública, mas um ajuste de sintonia fina, necessário e saudável. Resta saber se a alteração de nomes (e a consequente renovação de ideias) conseguirá reduzir os inaceitáveis números da violência no estado, como anseiam os cidadãos.