Alfredo Sirkis *, Jornal do Brasil
RIO - A escolha do tenente-coronel Mário Sérgio para o comando da PM foi uma boa escolha. Trata-se de um oficial sério, íntegro e com duas experiências que correspondem bem àquilo que a corporação precisa: sua grande vivência operacional enquanto comandante do Bope e a oportunidade de estudar a fundo os problemas muito particulares do Rio de Janeiro como presidente o Instituto de Segurança Pública, que lhe aportou o conhecimento de estatísticas e indicadores, o contato com a sociedade civil, os meios acadêmicos e o conhecimento de experiências de segurança bem sucedidas em outras cidades do Brasil e do mundo.
Penso que ele está capacitado para enfrentar alguns dos grandes pontos de estrangulamento da PM. Em primeiro lugar, a falta de profissionalismo e a deficiência de efetivo decorrente das famosas escalas de serviço, de 24h de trabalho por 48h de suposto descanso, quando o policial exerce uma segunda ocupação remunerada que acaba tornando-se mais rentável que a segurança pública. Precisamos de policias com dedicação exclusiva e isso é inviável com um salário de R$ 950,00. É fundamental haver remuneração digna para chegarmos na dedicação exclusiva que, por sua vez, aumenta o efetivo disponível todos os dias. É preciso também colocar nas ruas PMs afeitos a tarefas burocráticas ou requisitados para funções em outras esferas de governo. Isso precede os necessários concursos públicos.
Acredito que o policiamento ostensivo deva ser feito primordialmente a pé, como em Bogotá. É preciso ocupar o território, interagir com a população, colher informação o tempo todo e se fazer visível. A viatura complementa, permite uma rápida mobilização, quando necessário, mas não pode, como se faz no Rio, substituir a presença do guarda na calçada, na praça, interagindo com a dona de casa, com o comerciante.
Penso que com os valores que adquiriu no Bope ele será inflexível com os policiais-bandidos, com a peste do arrego e com a participação nas mal chamadas milícias . Mas um bom comandante não faz milagres numa instituição tão problemática e desfuncional à PM, faltam computadores, corregedoria autônoma, treinamento adequado, formação básica e inteligência e ele precisará do apoio, não só do governador como, sobretudo, da esfera federal, de onde terão que vir os recursos para viabilizar essa reformas indispensáveis. A política atual tem tido alguns acertos (depolitização e ocupação emblemática de algumas favelas) mas aqueles crimes que afetam mais diretamente a população de bem, assaltos e latrocínos, estão aumentando. Uma melhora do policiamento preventivo é fundamental.
Se o Rio de Janeiro é a vitrine do Brasil no mundo, esse investimento federal precisa ser feito no nível que se faz necessário! O Rio é, atualmente, a única grande cidade do mundo, sem guerra civil oficializada, onde existe uma ocupação bélica permanente de territórios por grupos criminosos que quebraram o monopólio constitucional das Forças Armadas sobre o armamento de guerra.
Para isso, temos que entender que uma boa polícia custa caro. E pagar o preço, seja qual for!
* Presidente da Comissão Especial de Segurança da Câmara Municipal