Alex Bostaris *, Jornal do Brasil
RIO - A possibilidade de uma pandemia de gripe ou de outra virose qualquer nunca foi mistério para ninguém. Muitas evidências apontam para essa possibilidade como os eventos do passado como a gripe asiática e a gripe espanhola, o surgimento de outras epidemias mundiais como a Aids e a hepatite C, e mesmo os estudos da indústria farmacêutica que já produziu drogas com esse foco, depois da ameaça da gripe do frango. Até Hollywood já explorou o tema. Entretanto as autoridades sanitárias, no mundo todo, vinham se comportando como se essa possibilidade ainda fosse distante.
Se considerarmos a perspectiva ecológica, veremos que existem muitas variáveis que têm se modificado no sentido de tornar uma pandemia mais provável e mais séria. A população mundial está crescendo sem parar e já supera em número, muito, a das outras espécies, destruindo ecossistemas e ocupando espaços no meio ambiente.
Como conseqüência, os vírus e microorganismos que parasitam essas espécies podem começar a parasitar também o homem. Não é de estranhar que tantos vírus de origem animal venham nos ameaçando. Por outro lado temos jogado milhares de toneladas e tóxicos mutagênicos no meio ambiente, que podem aumentar a freqüência de mutações nos microorganismos, o que facilita o surgimento de mutantes mais virulentos e agressivos.
Vejo muitos subestimando essa ameaça. É possível que esse vírus não tenha estabilidade no seu DNA e modifique suas características à medida que for infectando seres humanos. Mas se mantiver suas características teremos uma severa pandemia com milhões de óbitos em todo mundo. Autoridades mundiais não estão percebendo o risco.
* Alex Bostaris é especialista em doenças infecciosas no Hospital Claude Bernard (Paris)