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A ameaça que vem do céu

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Ronaldo Rogério de Freitas Mourão *, Tudo de Samba

RIO - A passagem do asteroide 2009 FH, com 20 metros de diâmetro, à distância de 85 mil quilômetros da Terra, em 18 de março, há menos de duas semanas, e a passagem de outro asteroide, o 2009 DD45, de 30 metros de diâmetro, à distância de 72 mil quilômetros, reabriram a discussão sobre o risco da colisão de um corpo celeste com nosso planeta. Uma próxima ameaça pode ocorrer a qualquer momento, mas já existe um asteroide programado para as próximas décadas: o Apophis.

Catalogado inicialmente como 2004 MN4, o Apophis foi observado pela primeira vez em 19 de junho de 2004 pelos astrônomos Roy Tucker, David Tholen e Fabrizio Bernardi, do Centro de Controle de Asteroides, fundado pela Nasa na Universidade do Havaí. O asteroide foi redescoberto em dezembro daquele ano pelo astrônomo Gordon Garrad, da Austrália, quando também se notou a possibilidade de uma rota de colisão com a Terra.

Batizado com o nome grego do antigo deus egípcio Apep (o destruidor), o Apophis faz parte de uma classe de asteróides chamados de classe Apollo. Cálculos matemáticos mais refinados feitos nos meses seguintes acabaram eliminando a possibilidade de uma colisão nesta época, mas mantiveram a previsão de que o asteroide passará pela Terra a pequena distância. Isso altera ligeiramente sua órbita, que o trará novamente ao planeta em 2036, com alguma possibilidade de um impacto direto uma em 43 mil, em princípio, já rebaixada para uma em 37 por alguns cientistas.

Apophis está numa órbita em que completa uma volta em torno do Sol a cada 323 dias terrestres e o coloca duas vezes em cruzamento com a órbita da Terra a cada volta completa pelo Sol. Com base em estudos sobre o brilho do asteroide, os astrônomos estimam seu tamanho entre 320m e 415m.

Caso haja colisão, sua massa, velocidade, composição e ângulo de entrada na atmosfera seriam suficientes para provocar uma explosão equivalente a 880 megatons de TNT num impacto direto. É uma energia equivalente a 114 mil bombas atômicas de Hiroshima ou sete erupções como a de 1823 do vulcão Krakatoa, na Indonésia. Tal impacto seria capaz de volatilizar completamente uma extensão de terra do tamanho da ilha de Chipre e causar efeitos colaterais na geografia, no clima e no meio ambiente de 1/3 do planeta.

Os últimos estudos astronômicos indicam o dia 13 de abril de 2036 como o momento de maior aproximação de Apophis da Terra, numa distância de passagem de 35 mil km da superfície do planeta. É uma distância inferior a dos satélites geoestacionários de telecomunicação em órbita. Como existem diversos estudos ainda divergentes, não se pode afirmar com absoluta certeza qual será realmente a distância de sua aproximação, nem eliminar completamente uma possibilidade de impacto. No momento, as projeções mais precisas continuam sendo feitas e anunciadas regularmente, pois Apophis é um dos corpos celestes mais vigiados no espaço pela comunidade científica.

Em 2005, o astronauta Russell Schweickart, tripulante da missão Apollo 15, que hoje dirige a Fundação B612 de estudos astronômicos, solicitou em audiência ao Congresso norte-americano que fosse autorizada uma liberação de fundos para o envio de uma sonda ao asteroide, no intuito de depositar um radioemissor em sua superfície, de modo que os astrônomos pudessem controlar sua posição correta e seus elementos orbitais exatos em torno do Sol e da Terra até 2070.

A preocupação de Schweickart e da comunidade astronômica é a de que, por ocasião da primeira passagem pelo planeta em 2029, venha a ocorrer uma alteração na órbita do asteroide, colocando-o numa posição mais favorável a uma colisão na passagem de 2036.

Apesar da possibilidade de impacto com a Terra não ser significativa, a Planetary Society está oferecendo um prêmio de US$ 50 mil para quem apresentar o melhor plano para colocar um rastreador no asteroide ou em sua proximidade.

* Ronaldo Rogério de Freitas Mourão escreveu mais de 85 livros, entre outros, 'Anuário de astronomia e astronáutica 2009'