Raul Velloso, JB Online
RIO - A crise financeira global teve efeito sobre o Brasil na forma da redução em nossas exportações em especial de commodities e aviões e, internamente, nos setores que dependem de crédito, em especial o imobiliário e automobilístico. Multinacionais com dificuldades reduziram projetos, e a compras de empresas nacionais por grupos estrangeiros cessaram. Diante desse cenário, para recuperar ao menos parte da demanda que a crise tirou do setor privado, o melhor seria o Banco Central reduzir os juros para reativar a demanda privada , enquanto o governo, se de todo inevitável, aumenta investimentos.
No tocante ao gasto público, a demanda a ser estimulada deve ser temporária, de forma que, quando o ambiente econômico ao redor do planeta estiver mais favorável e a demanda externa voltar, o governo possa recuar para não criar pressões inflacionárias. Não há muito que possamos fazer diante do recuo nas exportações de aviões, por exemplo, além de aguardar a recuperação no exterior e manter a economia do país em movimento. O caminho para isso são os investimentos em infraestrutura rodovias, metrô, construção , que o governo pode reduzir facilmente mais adiante.
A queda na arrecadação, no entanto, pode dificultar que esses investimentos sejam levados adiante. A saída, nesse caso, é a redução dos gastos correntes. Se os gastos públicos crescerem ainda mais neste momento, haverá um aprofundamento do saldo negativo nas transações do país com o exterior. O único gasto que o governo não pode segurar, obviamente, é o seguro-desemprego, diante de demissões em massa ocasionadas pelas dificuldades enfrentadas no setor privado.
A receita para o governo, portanto, consiste no aumento de investimentos especificamente em infraestrutura e na redução dos gastos correntes. Com gastos maiores, a dívida interna aumenta, e a situação menos crítica do Brasil na crise foi proporcionada justamente pela redução proporcional, no passado, da dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).
*especialista em contas públicas e ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento