Marcus Quintella * , Jornal do Brasil
RIO - Volto a escrever sobre a importância da adoção da Engenharia de Valor (EV) nas obras públicas brasileiras, ainda mais numa época de crise mundial, quando a preocupação com prazo, preço e qualidade é o foco principal dos poderes públicos.
A EV é um processo sistemático de análise de um projeto sob a ótica das funções a que se destina, de maneira a estimular a busca de alternativas que cumpram suas funções com menores custos de investimento, de operação e manutenção, sem prejuízo da qualidade e da segurança das obras.
A EV surgiu na General Eletric, durante a Segunda Guerra, sendo logo adotada nas agências governamentais e indústrias americanas. Em seguida, nos anos 60, chegou à Europa e Austrália e, nos anos 70, foi intensamente implantada na indústria japonesa. No Brasil, desde 1970, grandes empresas vêm utilizando a EV, tais como: Volkswagem, Mercedes Benz, IBM, Panasonic, Fiat, Consul, Basf, General Motors, Telebrás e Petrobras, entre outras.
O conceito de valor econômico aplicável à EV pode ser definido pela relação entre os benefícios e investimentos de um projeto ou pela razão entre o desempenho e custos desse mesmo projeto. Os benefícios são as reduções de tempo de viagem e de acidentes, as gerações de empregos, etc. O desempenho é medido pela segurança e qualidade da obra, confiabilidade, impactos sobre o meio ambiente, etc.
Os resultados da aplicação da EV na agência estatal americana Caltrans California Department of Transportation são bastante expressivos. A Caltrans, que responde pelo planejamento, construção e manutenção da infra-estrutura de transporte da Califórnia, obteve uma economia de US$ 859 milhões em obras orçadas em US$ 10,7 bilhões, entre 1996 e 2002. Foram gastos US$ 8,5 milhões nos estudos de EV, cujos resultados proporcionaram uma economia de US$ 100 no investimento para cada dólar gasto em EV. Além disso, o desempenho dos projetos foi otimizado em 11,4%, em média, e a melhoria de valor, definido pela relação desempenho/custo, foi de 18,3%.
No setor metroferroviário internacional, os resultados da EV são animadores, especialmente em Los Angeles, na Pasadena Blue Line Stations, e em Boston, na Savin Hill Red Line Stations, onde houve economias de alguns milhões de dólares, e no metrô de Londres, onde são realizados, em média, 100 estudos por ano.
No Brasil, a EV vem sendo aplicada em Minas Gerais, desde 2001, apenas nos setores rodoviário e aeroportuário, através do Decreto n° 41.639, de 24/04/2001. A EV é uma das metas do Acordo de Resultados, firmado pelo DER-MG e o governo de Minas Gerais, cuja aplicação é voltada em 5% dos projetos com custos estimados acima de R$ 20 milhões, em 2008. O governo de Minas também incorporou sua aplicação ao Programa Mineiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PMQP-H). O DER-MG, pioneiro na utilização da EV em Minas, vem utilizando a metodologia em projetos estruturadores, tais como o Programa de Pavimentação de Ligações e Acessos Rodoviários aos Municípios (ProAcesso) e o Programa de Recuperação e Manutenção Rodoviária do Estado de Minas Gerais (ProMG). O estudo mais recente de EV foi desenvolvido no projeto da rodovia estadual MG-424, onde foram realizados balanços, análises e hierarquização de funções, além do estabelecimento de pesos de critérios para maximizar resultados e melhorar o desempenho global do empreendimento.
O exemplo do governo de Minas Gerais poderia ser seguido pelos demais estados da federação, bem como pelos municípios brasileiros de médio e grande portes, e pelo Governo Federal. Além disso, a EV poderia ser adotada pelos tribunais de contas, especialmente o TCU, como ferramenta de acompanhamento e controle da aplicação do dinheiro público. Isso seria um avanço na qualidade das obras públicas, com mais eficiência e eficácia de atuação dos poderes públicos e demonstração de empreendedorismo, criatividade e espírito inovador dos políticos e governantes brasileiros.
* engenheiro