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A batalha pelos cinco andares do Casa Grande

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Marcelo Barbosa*, JB Online

- Desde o início desta semana paira uma ameaça sobre a vida cultural da cidade. A Secretaria de Estado de Fazenda anunciou o leilão de privatização dos cinco andares acima do Teatro Oi Casa Grande que, há mais de 20 anos, vinham sendo destinados a compor as instalações de um grande centro cultural. Diante da mensagem publicada no Diário Oficial, vários nomes do mundo das artes, da cultura e da política já estão protestando: personalidades como Fernanda Montenegro, Ziraldo, Martinho da Vila, Maurício Azêdo, Alcione, Joyce, Aldir Blanc, João Bosco, Carlos Lessa, Nei Lopes, Carlos Lyra, Benvindo Sequeira, entidades como a OAB-RJ, o Sindicato dos Advogados e a ABI, entre muitos outros nomes.

O que esse grupo extremamente representativo pretende, com a autoridade de quem participou dos debates e eventos políticos e culturais no período mais agudo da luta pela democracia no país, é a assinatura de um contrato de cessão de uso do espaço ameaçado dos cinco andares ao lado do Shopping Leblon.

Esta cessão esteve prevista ao longo de toda a negociação com vários governos do Rio e com a Assembléia Legislativa do estado, quando foi definida a construção do Shopping Leblon, ficando acertado que a contrapartida desse enorme projeto comercial seria a criação de um complexo de atividades culturais e acadêmicas no espaço acima do teatro. Existe uma farta documentação capaz de comprovar estes entendimentos.

Em 2002, a então governadora Benedita da Silva celebrou um convênio para tirar do papel a idéia da criação do centro cultural, dando forma jurídica a essa iniciativa. Os andares foram construídos e o projeto posto em condições de ser instalado. É um sonho de mais de 20 anos e uma luta de artistas e intelectuais, desejosos de expandir e tornar permanente a ação social do Teatro Casa Grande.

Nos planos do Instituto Casa Grande (ICG), que vai administrar o centro, estão a realização de cursos práticos nas áreas das artes plásticas e música; um fórum permanente de problemas brasileiros; uma universidade livre e aberta e outras iniciativas. Os nomes do Conselho Consultivo do Instituto respondem por sua credibilidade: Oscar Niemeyer, Ferreira Gullar, Sergio Ri cardo, Ziraldo, Milton Coelho da Graça e outros.

Agora, para nossa surpresa, o secretário de Fazenda do Rio, no propósito legítimo de fortalecer as finanças do estado, mas certamente por desconhecer aspectos históricos do problema, anuncia a venda do espaço.

Se isso for concretizado, um patrimônio cultural e simbólico que pertence não só aos cariocas, mas a todos os brasileiros, será alienado. O direito estabelecido no convênio para o uso do terreno do Casa Grande também terá sido violado portanto, passível de contestação judicial

O que se espera, portanto, é que a venda não ocorra e que o estado reconheça a importância desta trincheira da cultura e da cidadania.

*Coordenador-geral do Instituto

Casa Grande