Editorial , Jornal do Brasil
RIO - É especialmente alvissareira a notícia de que o governo estadual abriu a trilha que conduzirá o metrô do Rio até a Barra da Tijuca. Segundo informou na quarta-feira o governador Sérgio Cabral, até o fim do ano a fase inicial da extensão do metrô estará licitada e as obras, iniciadas. Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o projeto inclui a extensão da linha 1, que ligará a Praça General Osório, em Ipanema, à Gávea, com estações intermediárias no Leblon. Da Gávea sairá a linha 4, ligando a Zona Sul à Barra. Os passageiros do otimismo estão desde já informados de que os projetos incorporados ao PAC incluem ainda o corredor de ônibus que fará o trajeto Barra, Madureira e Penha, o Corredor T5 e também a ampliação da Via Light até a Linha Vermelha e da ligação metroviária entre Niterói e São Gonçalo. A oficialização, neste caso, dependerá da nomeação do Rio como uma das sedes dos jogos da Copa, tida como certa.
Não poderia haver melhor notícia para os cariocas, acostumados, nos últimos anos, aos tormentos diários impostos pelas dificuldades no trânsito. Chama a atenção especialmente a extensão do metrô à Barra projeto esperado há incríveis 10 anos. O governo Cabral acerta duplamente. Em primeiro lugar, tem sabido operar politicamente a viabilidade de parceria com o governo federal. Segundo, por igual vínculo com a iniciativa privada, sem a qual projetos dessa natureza não saem do papel. E, como terceiro motivo, no caso da linha 4, a mudança do projeto original, contido na concessão de 10 anos atrás. Como afirmou o governador, o contrato havia se dado de maneira completamente equivocada : de Botafogo a Gávea, como previa a idéia inicial, o cidadão pagaria R$ 6,20 de passagem para depois pagar R$ 2 entrando na linha 1. Seria o metrô mais caro do mundo , sublinhou, com precisão, o governador. Agora, lembrou, quem sair da Pavuna poderá chegar à Barra com o mesmo tíquete.
Eis que, enfim, uma autoridade põe em prática uma reivindicação de décadas. Faz muito tempo que os avanços do metrô carioca caminham a passos demasiadamente lentos. Não comportam o ritmo dos problemas em curso no trânsito na cidade um martírio cotidiano cuja culpa está no excesso de carros, nos ônibus e vans em profusão, nos topiqueiros que trafegam na fronteira da ilegalidade, na malha viária deficiente e na ausência de projetos relevantes nessa área por muito tempo. Não à toa especialistas respeitáveis ouvidos pelo JB esta semana vibraram com a notícia. Mostra o bom senso em valorizar o transporte de massa , ressaltou o presidente da ONG Trânsito Amigo, Fernando Diniz. São 150 mil novos carros emplacados a cada ano. O Rio vai parar se nada for feito , completou Milton Corrêa da Costa, ex-assessor do Departamento de Circulação Viária do Rio.
Impressiona que o óbvio tenha sido ignorado por miopia, falta de vontade política ou de capacidade de articulação entre as esferas de governo e a iniciativa privada. Há praticamente três décadas se sabe que o Rio cresceria em direção à Zona Oeste. Apesar dessa constatação, nada foi feito. Um equívoco ainda mais impensável para uma cidade que já sediou o Pan, vai sediar a Copa do Mundo e tem ambição ainda superior: a Olimpíada de 2016. Até aqui se ignorou a premissa de que certas exigências estruturais não podem ser substituídas pela beleza natural. Com as notícias desta semana, o governador Sérgio Cabral devolve o assunto ao trilho certo. Para o bem do Rio e de seus moradores.