Portal Terra
PEQUIM - O remador Thiago Gomes pode ser classificado como um verdadeiro sobrevivente olímpico. Com um tumor no ouvido, bronquite, vitiligo e um acidente de moto que quase tirou sua vida, o brasileiro chega para disputar pela segunda vez uma edição dos Jogos Olímpicos no double skiff peso leve.
Apesar de todos os problemas que passou ao longo dos anos, o atleta fala com naturalidade sobre essas dificuldades.
- O tumor no ouvido aconteceu quando eu tinha apenas 10 anos de idade. Eu praticava natação e tive que parar. Mas todas as crianças passam por problemas de saúde, afirmou.
Gomes afirmou que o momento mais difícil que passou na carreira foi após o acidente de moto em 2001. Na ocasião, um ônibus freou bruscamente e, após brecar também, o remador acabou atingido por um carro. Na colisão, ele fraturou os dois pulsos, teve esmagamento do cotovelo e traumatismo craniano.
- O médico que eu fui me disse que não poderia voltar a competir, que não tinha mais jeito. Fiquei nove meses sem treinar, mas consegui dar a volta por cima - afirmou Gomes, que três anos depois realizou o sonho de ir para a sua primeira Olimpíada.
- Quando cheguei em Atenas, vi um sonho ser realizado. Agora dou graças a Deus de chegar à minha segunda Olimpíada. Vai ser minha última - disse o remador, 29 anos, que pretende terminar a faculdade de Educação Física e virar treinador após se aposentar.
Nesta edição dos Jogos Olímpicos, Gomes terá de superar outra dificuldade. Com bronquite, ele tenta se adaptar ao ar poluído de Pequim.
- Já senti uma diferença quando cheguei, tentava segurar o ar e não conseguia. Mas acho um pouco de frescura reclamar do ar. Quem está em uma edição dos Jogos Olímpicos tem de estar disposto a tudo. Os chineses são uma potência olímpica e treinam aqui. É uma questão de adaptação.
Além da bronquite, na atual edição dos Jogos, ele convive com vitiligo, doença caracterizada pela despigmentação da pele.
- Muitos dizem para não se preocupar, mas para mim isso (vitiligo) incomoda. É uma doença onde ainda estou procurando a cura. Começou a surgir os sintomas no Pan de 2003, em Santo Domingo.
Parceiro supersticioso
Nos Jogos Olímpicos, Thiago Gomes dividirá o barco com o seu xará Thiago Almeida, mais conhecido como Capi. Supersticioso, o remador capixaba tem algumas superstições durante as provas.
- Eu e minha mãe já escolhemos a cueca e a meia da sorte. Não trouxe hoje para o treinamento, mas está aí. Gosto também de sempre limpar o barco. Os outros atletas até brincam: "hoje, o Capi não lavou o barco. Não vai dar certo essa regata".
A dupla formada pelos dois Thiagos foi recentemente formada. Após seu parceiro José Carlos Sobral Junior largar a parceria de mais de 10 anos, Gomes resolveu se juntar a Capi na briga por uma vaga em Pequim.
- Estamos juntos a apenas oito meses. Tive que fazer diversas adaptações na minha remada, até porque antes eu era o proa e tive que virar o voga (remador mais próximo da traseira do barco). Fora que ambos somos explosivos. Com o Sobral era o positivo e negativo, ele era a pessoa calma da dupla.
Capi afirmou que mesmo com esse entrosamento recente, a dupla almeja ir longe nos Jogos Olímpicos.
- Nossa expectativa é chegar à final, se classificando entre os seis primeiros. Se chegarmos lá, tudo pode acontecer.
Os Jogos de Pequim serão realizados de 6 a 24 de agosto.