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Papa 'busca ampliar controle sobre Igreja no Brasil'

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Portal Terra

BRASÍLIA - Com sua viagem Brasil, o papa Bento XVI busca ao mesmo tempo valorizar o País e aumentar seu controle sobre a Igreja brasileira, na opinião de especialistas e religiosos. A escolha do País como a primeira nação fora da Europa a ser visitada e a canonização do primeiro santo brasileiro seriam sinais de que Bento XVI quer deixar clara a importância que dá ao Brasil.

Porém, o momento da viagem - ele vai participar da abertura da 5ª Conferência Episcopal Latino-americana e do Caribe - demonstra que o Papa quer ir além disso.

Bento XVI visita o País num momento delicado para a Igreja da América Latina.

- Sabemos que a cada dia 8 mil fiéis católicos na América Latina largam a Igreja para andar com os movimentos neopentecostais - diz o escritor e especialista em Vaticano Marco Politi.

- É um grave momento de preocupação para o Papa, já alarmado com o fato de que a Igreja na Europa é muito secularizada.

No Brasil, conforme dados do Vaticano de 2005, 84,5% da população brasileira é católica. Em 1980, eram 90,12%. Outros números, como o do IBGE, em 2000 (73,8% de católicos), ou da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 2005 (67%), mostram uma situação ainda pior para a Igreja.

- Nós temos no Brasil uma evasão de católicos acentuada nos últimos anos: ao redor de 1% ao ano - diz o cardeal d. Cláudio Hummes, prefeito da Congregação para o Clero - É importante que a Igreja Católica pergunte a si mesma - e o Papa quer ajudar nesta reflexão - o que se deve de fato fazer.

Para d. Cláudio, com sua viagem o Papa pretende respaldar a Igreja no Brasil, dizendo que o Vaticano lhe dá apoio, e buscar uma solução à perda de fiéis.

Na opinião do especialista em Vaticano Sandro Magister, Bento XVI não quer apenas prestar apoio, mas dar também um rumo à Igreja no País mais alinhado com a sua própria visão.

Em março passado, um dos principais teóricos da Teologia da Libertação, o jesuíta Jon Sobrino, foi punido pelo Vaticano. Para Sandro Magister, essa punição dará o tom da viagem ao Brasil.

- O Papa condena, ainda hoje, a influência que a Teologia da Libertação teve e ainda tem no clero e a responsabiliza pela debilidade da Igreja na América Latina - diz o especialista em Vaticano Sandro Magister - A sentença contra Sobrino antecipa o que o Papa ditará à Igreja do continente nesta viagem.

De acordo com Magister, na ótica do Vaticano, o problema e a solução à perda de fiéis gira em torno da figura de Jesus, tema central do livro lançado recentemente por Bento XVI.

- Na avaliação do Papa, os fiéis mudam para as neopentecostais porque têm sede de um Jesus vivo e verdadeiro - diz. "Ele acredita que a Igreja latino-americana anuncia um Cristo muito frágil. Nos livros de Sobrino, ele é humanizado e politizado, o que desagrada Bento XVI."

Influência

Para os especialistas, a decisão do Papa de participar da abertura da conferência episcopal é um sinal de como ele pretende reforçar sua mensagem.

O frei Luiz Carlos Susin, responsável pela Secretaria Permanente do 1º e do 2º Fórum Mundial de Teologia e Libertação, disse que a decisão do Papa em abrir a 5ª Conferência, em Aparecida, tem motivação intimidatória.

- Estando no início, o Papa deverá direcionar fortemente a assembléia - firma - Seria aconselhável que ele aparecesse no final e deixasse os bispos trabalharem com suas próprias cabeças.

Em 1979, João Paulo II abriu a conferência de Puebla, no México, alertando os bispos contra o que ele chamou de desvios marxistas dos teólogos da libertação. A partir daí, um grande número de prelados e teólogos seguiram a mesma linha, defendendo as correntes mais conservadoras do catolicismo.

De Aparecida, sairão diretrizes para a ação da Igreja nos próximos anos no continente. Deve ser discutido qual o modelo de Igreja deverá ser seguido: o estilo europeu do Papa, construído desde cima e para dentro, ou o brasileiro, mais enraizado nos meios populares.