Nesta quinta-feira (17), Carolina de Assis Repetto completa 100 anos. Mineira de Juiz de Fora, ela ainda está perfeitamente lúcida e cheia da mesma personalidade forte com que escreveu uma história de vanguarda.
Dona Lilina, como é conhecida entre os mais íntimos, sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Uma verdadeira matriarca que priorizava a família acima de tudo, e tomava para si todos os desafios - e foram muitos - que a vida lhe impôs.
Embora pertencesse à aristocracia mineira, Carolina fugia ao padrão da época e gostava de se aventurar em grandes emoções.
Baixinha, de olhar vivo e extremamente inteligente, ela foi a primeira mulher a tirar o brevê de aviadora em Minas Gerais, em 1939, quando tinha apenas 19 anos. E não bastava voar, ela fazia também acrobacias com seu PP-GAN, deixando todos os instrutores boquiabertos. Participava de competições com seu avião, sempre representando Minas Gerais. Sua paixão pelos aviões a acompanhou pela vida toda.
Em 1940, casou-se com o carioca Roberto Repetto, único e grande amor de sua vida, que ela conheceu no antigo aeroclube de Juiz de Fora. Em 1954, mudaram-se para o casarão da tradicional família Assis, em frente à Catedral em Juiz de Fora. Enquanto vivia com ele uma vida de bastante glamour, a família ia aumentando, um filho após o outro.
Sua mãe, Emerenciana, também foi uma mulher que fugiu aos padrões. Após ficar viúva, foi a principal colaboradora na construção do Cenáculo da Av. Rio Branco, local que acabou por recebê-la e realizar seu desejo de tornar-se freira.
Carolina também seguiu uma vida de muita fé e religiosidade, mas suas aspirações iam muito além.
Conquistou com o marido Roberto - que tornou-se um banqueiro influente na cidade - uma situação financeira invejável. Nas suas terras da fazenda da família Assis, construiu o sítio Florestinha, uma belíssima casa que ela criou, arquitetou, construiu e que até hoje recebe sua família cada vez mais numerosa.
Em 1959, uma grande reviravolta econômica obrigou o casal a deixar a vida confortável de Juiz de Fora e se mudar para o Rio, com seus então já nove filhos. No Rio, Carolina - que era acostumada aos mimos e luxos de uma família rica - começou a trabalhar de decoradora em uma rotina pesada para ajudar o marido na criação dos filhos. Tudo isso sem perder a alegria e mantendo sempre a grande família unida.
Em 1970, ficou viúva e retornou para Juiz de Fora.
Embora jamais tenha feito faculdade, sempre gostou de construir casas. Já tinha feito a Florestinha mas foi nessa época que revelou-se uma grande arquiteta. Ao longo de sua vida, construiu mais de 20 belas casas, a maioria delas nas terras da família; casas de filhos, primos e sobrinhos.
Em 2010, sofreu outra grande perda quando seu filho Renato, a mulher dele e mais duas bisnetas morreram em deslizamento de terra em Angra dos Reis. No cortejo do enterro de seu filho, ela já com 90 anos caminhou firme à frente de toda sua família, chamando a atenção dos jornais e tvs que cobriam o enterro, pela postura de coragem com que enfrentou mais essa situação tão dolorosa.
Atualmente Carolina vive na sua amada Florestinha, e é lá que ela vai comemorar a data, cercada por seus filhos, genros, noras, netos e bisnetos. Uma linda família, alegre e festeira, que preparou para ela uma festa cheia de surpresas.