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Filme de estreante comove Sundance

"Mass", estreia do ator Fran Kranz na direção, proporcionou uma das sessões mais emocionantes até agora nesta edição 2021 do Festival do Sundance

Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 02/02/2021 às 11:28

Alterado em 02/02/2021 às 11:34

Jason Isaacs e Martha Plimpton, atores de Mass Foto de Ryan Jackson-Healy / Instituto Sundance

Exibido na Première, mostra criada para expor a diversidade do cinema independente contemporâneo, o filme é o relato de uma tragédia que afeta a vida de dois casais de formas diferentes.

A história se passa durante o encontro de quatro pais no porão de uma igreja falando sobre uma terrível tragédia que mudou suas vidas para sempre: o tiroteio em uma escola onde 11 crianças foram mortas, incluindo os filhos de Gail e Jay (Martha Plimpton e Jason Issacs) e Richard e Linda (Reed Birney e Ann Down). Além do drama dos protagonistas, "Mass" aborda temas como violência armada e ativismo político.

Na coletiva após a projeção, o diretor se emocionou ao agradecer ao elenco por ter tornado seu sonho uma realidade e a cada pessoa que colaborou,, direta e indiretamente, com o filme.

Macaque in the trees
Diretor Fran Kranz, de Mass (Foto: Foto de Riker Brothers / Instituto Sundance)

“Apesar de ser um trabalho de ficção, os eventos que o inspiraram não foram; então esse filme é sobre todas as vidas afetadas por essa tragédia”, declarou o cineasta, fazendo um agradecimento também ao festival.

“Estou muito grato e impressionado com o que vocês conseguiram fazer com a edição deste ano”, reconheceu Kranz, sem conseguir conter as lágrimas.

Sobre a motivação para contar essa história, ele disse que recentemente tinha se tornado pai e ouviu no rádio relatos de tiroteio em uma escola. Fiquei pensando como é possível superar algo tão trágico e, na pesquisa, descobri encontros entre os que viveram o episódio e as conexões possíveis por uma forma de perdão”, explicou o diretor, acrescentando que o filme só foi possível graças ao excelente desempenho dos atores.

A atriz Ann Down, sem conter a emoção, explicou como se prepararam para viver os personagens. “Após duas semanas de ensaios, sabíamos que o que estávamos fazendo ia ser algo especial, algo muito importante”, disse Ann, com a concordância de Kranz. “Eu não teria feito esse filme se não acreditasse que ele traz esperança, então desejo que isso chegue às pessoas”, concluiu.


Atrás das câmeras

Nas competitivas, o destaque foi “Passing”, que teve sua segunda exibição nessa segunda feira (1º).
O filme – que concorre na mostra americana de dramas – era aguardado com expectativa. Além de ser a adaptação para as telas do aclamado livro de Nella Larsen Harlem, lançado em 1929, marca a estreia na direção da atriz Rebecca Hall.

A história segue Irene Redfield (Tessa Thompson) e Clare Kendry (Ruth Negga), duas mulheres negras de peles claras que podem “se passar por brancas”. Enquanto a primeira se orgulha da negritude e celebra a cultura afro-americana, a segunda manteve sua ancestralidade em segredo e casou-se com um racista. Elas estudaram juntas no ensino médio, mas não se viam há tempos. Um reencontro se torna uma ameaça para ambas.

Filmado em preto e branco, “Passing” é um thriller psicológico sobre obsessão, repressão e as tensões opressivas do racismo.

Na entrevista após a projeção, a diretora e as duas protagonistas falaram sobre a conexão que tiveram com o livro de Noah Larsson. Hall disse que leu o romance em um momento muito específico de sua vida relacionado com problemas não resolvidos por parte da família de sua mãe. “Ele me trouxe respostas, é uma peça extraordinária da literatura, e eu achei que poderia render um filme também extraordinário”, destacou a diretora.

Macaque in the trees
Diretora Rebecca Hall, de Passing (Foto: Foto: Jeff Vespa / Instituto Sundance)

Thompson contou que não havia lido o livro até entrar em contato com o projeto. “Mas após lê-lo, me identifiquei muito com as protagonistas,  e fiquei impressionada como pode ser tão denso e cheio de ideias em apenas 95 páginas”, revelou a atriz.

Negga, por sua vez, disse que o livro é uma obra prima. “O que mais me atraiu foi a complexa relação das personagens, o que as faz ficar próximas... enfim elas sentem, ao mesmo tempo, admiração e inveja uma da outra, nuances raras com amizades femininas”.

Ao final, falando sobre aspectos técnicos do filme, Hall explicou que a opção por filmar em preto e branco foi uma decisão conceitual ao invés de estilística. “Acho que adicionou nuances ao filme, sugerindo que as pessoas considerem algo – e o seu oposto – ao mesmo tempo e o tempo todo”, concluiu a diretora que, estreando na direção, deu seu recado com muita competência na adaptação da escritora americana.

Hoje à noite, uma cerimônia de premiação divulgará os vencedores dos troféus independentes desta edição do Sundance, que em face da Pandemia está acontecendo de forma online com poucas sessões presenciais em locais predeterminados dos Estados Unidos.