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Prêmio de melhor filme da Mostra Aurora ao documentário "Açucena", de Isaac Donato comprova bom momento do cinema baiano

Na Mostra Olhos Livres, dupla de cineastas Maxakali ganhou pelo segundo ano seguido, com "Nh yãg m yõg hãm: essa terra é nossa!"; diretora e roteirista Ana Johann levou o Troféu Helena Ignez por seu trabalho em "A Mesma Parte de um Homem". Na Mostra Foco, os curtas "Abjetas 288" e "4 Bilhões de Infinitos" foram os vencedores

Por Jornal do Brasil
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Publicado em 01/02/2021 às 10:12

Alterado em 01/02/2021 às 10:12

A cerimônia de encerramento do Festival de Tiradentes aconteceu sábado Foto: reprodução

O filme baiano “Açucena”, de Isaac Donato, foi o vencedor de melhor longa-metragem da Mostra Aurora na 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes. A cerimônia de encerramento, transmitida pelo site do evento na noite de sábado (30), confirmou a forte presença e prestígio do cinema baiano este ano. O prêmio foi concedido pelo Júri Oficial, formado por críticos, pesquisadores e profissionais do audiovisual. Em fala transmitida em vídeo, a integrante do júri, cineasta e curadora Graciela Guarani apontou que o filme “celebra e movimenta as imagens para dar a ver o que não é da ordem do visível”, pois “acumula delicadamente um estranho familiar, evocando uma infância ou maternidade coletivas”. Diz ainda: “Com dissonância misteriosa, estimulada a partir do cotidiano de sorrisos, gestos e falas de uma comunidade envolta numa festa-ritual, premiamos um filme de partilha de sensibilidades”.

O Troféu Carlos Reichenbach, dado pelo Júri Jovem ao melhor longa da Mostra Olhos Livres, foi para “Nh yãg m yõg hãm: essa terra é nossa!”, de Isael Maxakali, Sueli Maxakali, Carolina Canguçu e Roberto Romero, realizado em Minas Gerais e premiando, pela segunda vez consecutiva, um filme da dupla de cineastas Maxakali (em 2020 o ganhador foi “Yamiyhex – As Mulheres-espírito”). Na justificativa, o Júri Jovem, formado por estudantes, defendeu que “ao traçar um mapa não localizável na iconografia, os sussurros e a oralidade tornam-se imagens. Suspensas e bifurcadas, elas desestruturam os imaginários, modificando a narrativa da lógica visual colonial”. Disseram ainda que, “em seu percurso, o mapeamento da perda possibilita a criação de traçados cartográficos dentro de uma inventividade singular que concebe temporalidades próprias, regidas por vestígios coletivos de pertencimento”.

O Prêmio Helena Ignez 2021, oferecido pelo Júri Oficial a um destaque feminino em qualquer função nos filmes das Mostras Aurora e Foco, foi dado à diretora e roteirista Ana Johann, que assinou “A Mesma Parte de um Homem” (PR). A integrante do júri e pesquisadora Mariana Souto disse que a “maturidade demonstrada em um primeiro longa-metragem de ficção e a forma consistente como a diretora maneja os jogos ficcionais, desdobrando narrativas em outras narrativas” foram essenciais para a escolha da premiada, graças ao seu trabalho no filme concorrente.

Na Mostra Foco, o Júri Oficial escolheu o curta-metragem “Abjetas 288” (SE), com direção de Júlia da Costa e Renata Mourão. A justificativa, lida pela crítica teatral Soraya Martins, integrante do Júri Oficial, apontou que “em um panorama de filmes que respondem a um caos político e social que beira o apocalipse, o filme deste ano reconfigura a transgressão estética do cinema de invenção e aponta para um futuro combativo e vibrante”, dizendo que o “trabalho inquieto de direção e o ritmo da montagem do filme constroem uma estética do transbordamento”.

O Prêmio Canal Brasil de Curtas, que oferece R$ 15 mil a um curta também da Mostra Foco em júri formado pelo próprio canal, foi para “4 Bilhões de Infinitos” (MG), de Marco Antônio Pereira.