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A luz paternal de Casey Affleck serve de farol ao Festival de San Sebastián

Divulgação -
Cenas do longa "Light of life" de Casey Affleck
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Porção espanhola do G7 das maiores mostras de cinema do mundo, ladeado pelas maratonas cinéfilas de Roterdã, Berlim, Cannes, Locarno, Veneza e Toronto, o Festival de San Sebastián, hoje em sua 67ª edição, reservou para si uma cota de distopia que anda atraindo os olhares da mídia para sua programação de quase 300 filmes: “A luz do fim do mundo” é esse ímã para os holofotes da imprensa. O motivo: tristíssimo, o longa-metragem, batizado originalmente de “Light of life”, marca a passagem de Casey Affleck, o oscarizado (e polêmico) astro de “Manchester à beira-mar” (2016), ao posto de realizador. Considerado um dos melhores atores americanos de sua geração, ele atua e dirige esta pequena produção importada da seção Panorama da Berlinale. Mas, dado a fama e o prestígio que tem, ele conseguiu chamar a atenção da cidade basca, que passou o fim de semana encantada com as reflexões políticas do mestre de origem franco-grega Costa-Gavras no drama “Adults in the room”, centrado em especulações monetárias. Já o tema perseguido por Casey parece leve, mas não é. Em sua trama, ambientada em um futuro distópico, todas as mulheres estão morrendo em decorrência de uma epidemia misteriosa. Sobre uma menina, Rag, vivida por Anna Pniowsky, que pode ser a única resistência da raça humana para o futuro.

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Cenas do longa "Light of life" de Casey Affleck (Foto: Divulgação)

“Anna me trouxe a confiança de que eu, diretor estreante na ficção, precisava para construir uma metáfora sobre as desatenções nossas sobre o que se passa no mundo à nossa volta. E ainda resolvi embarcar nessa atuando", disse Affleck ao JB, em Berlim.

No enredo que escreveu e dirigiu, o irmão mais novo do galã Ben Affleck (que viveu o Batman, em 2016 e 17) vive um pai em luta para proteger Rag da moléstia que faz os códigos do feminino desaparecerem gradualmente da Terra, num futuro apocalíptico.

 

“Eu não sei julgar se minha história é feminista, mas há uma mulher jovem que se empodera e resiste. Tem um pouco de horror no filme. Tem um quê de filme apocalipse, algo de que sou fã. Mas há uma história sobre família", explica o ator e cineasta, que, em 2010, lançou um documentário sobre as loucuras de seu amigo ator Joaquin Phoenix. “Fiz muitos filmes, atuando, onde havia coisa demais em cena... cenários enormes... pilhas de figurantes. Acabei dirigindo um filme onde há o mínimo. A força vem do meu elenco”.


No domingo, na disputa pela Concha de Ouro, San Sebastián conferiu um concorrente do Tibete: “Llamo and Skalbe”, de Sontha Gyal, cineasta chinês. Na trama, um casal apaixonado tem que abrir mão do sonho do matrimônio porque ele não completou seu divórcio legalmente e a ex pretende trazer problemas para os anseios românticos de seu antigo parceiro. Mas as razões disso não são movidas pelo egoísmo e sim por feridas profundas. A encenação de uma ópera vai atrapalhar ainda mais a relação entre eles. “O povo do Tibete tem uma relação muito próxima com a Natureza, pois ela é o nosso patrimônio mais sólido e mais recorrente. Isso me levou a retratar essa história de desconexões e solidões usando luz natural”, disse Gyal.

A aposta desta segunda em San Sebastián foi “The other lamb”, da diretora polonesa Malgorzata Szumowska (de “Body” e “Mug”), centrado nos feitos de uma seita religiosa. Egresso do Festival de Toronto, o projeto marca a estreia da cineasta em língua inglesa, numa trama com forte influência (visual e dramatúrgica) de Lars von Trier, sobre um grupo de mulheres que formam uma congregação religiosa sob o comando de um fundamentalista chamado de Pastor (vivido por Michiel Huisman). Quando uma das fiéis, a jovem Selah (Raffey Cassidy) entra em fase menstrual, os poderes sexistas do Pastor são postos em xeque. “O fundamentalismo é uma questão que me instiga. O desafio maior desse longa, filmado na Irlanda, foi driblar o frio”, disse Malgorzata ao JB.

Até o momento, no evento, que abriu as portas na sexta-feira, o longa em concurso com maior carinho dos críticos é “Próxima”, da francesa Alice Winocour (de “Augustine”), no qual Eva Green vive uma astronauta com conflitos em um planeta não muito distante, chamado Maternidade. Porém a produção com mais visibilidade da mostra oficial foi exibida hors-concours: a dramédia argentina “La Odisea de Los Giles”, de Sebastián Borensztein, com Ricardo Darín e seu filho ator, Chino. Vista por 1 milhão de pagantes na terra de nossos hermanos, o longa põe o astro no papel de um ex-craque de futebol que, em 2001, no ano da falência financeira de sua pátria, reúne um grupo de vizinhos, em uma cidadezinha do interior, para abrir uma cooperativa.

San Sebastián segue até o dia 28, quando será realizada a cerimônia de premiação, precedida pela exibição de um filme surpresa, o que todos aqui acreditam ser o novo Woody Allen: “A rainy day in New York”.