Não gosto de Réveillon.
Não gosto que me impinjam a obrigação de ser feliz, de me vestir de branco A pesar do inferno astral, que este ano foi chatinho, não posso me queixar deste 2010 que está indo embora. Agora, no apagar das luzes, me contaram que o planeta Marte está numa posição muito especial pra mim, nestes últimos dias, pois está no ponto mais alto do meu signo, Capricórnio: o topo do céu ou “meio do céu”, como se fala em astrologia. Te mete, santa! Quando a barra começa a pesar, quando me sinto triste, trato logo de lembrar do sonho que realizei este ano: longas férias em Paris, grande parte delas com meu filho, e uma quinzenazinha com minha nora e minha Bela Antonia – cujas poses pela Cidade Luz estão devidamente registradas em álbum especial que mandei fazer. Merecia aquele descanso, todo o prazer que tive. Foi inesquecível a semana que passei com o Chris viajando pela Borgonha, comendo nos restaurantes que ele queria conferir, tomando aqueles vinhos maravilhosos. Flanamos por Roanne, a terra dos Troisgros, onde ele passou 15 dias estagiando no estreladíssimo relais et châteaux da família.
Tempo bom. Em tudo e por tudo. Além do mais, foi mais ou menos como esse tal “meio do céu” astrológico de agora: uma conjuntura astrológica e terrena rara – conseguir que todos pudessem estar ali, na mesma época, sem compromissos de trabalho, de estudos, todo mundo numa boa, curtindo aquela cidade linda, em plena primavera – a mais bela das estações.
Portanto, e apesar de aporrinholas menores ou maiores, não posso me queixar deste 2010 que já está com o pé fora da folhinha.
Até vai deixar saudade. Não gosto de Réveillon. Não gosto que me impinjam a obrigação de ser feliz, de me vestir de branco, de tomar champagne, de confraternizar obrigatoriamente – e de cara alegre, de preferência ligeiramente alta e rindo à toa. Não gosto mesmo.
Há anos faço uma reunião na minha casa, restrita aos amigos do peito. De família, só minha irmã e meus sobrinhos. Filho e companhia partem para Búzios, para a casa do pai dele. Sempre foi assim, e fica todo mundo feliz. Aqui em casa, jantamos, bebemos, conversamos, rimos, e os mais animados ainda vão até a beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, que tem uma queima de fogos espetacular.
Tem coisa melhor no mundo do que ficar em paz, na sua casa, com os mais queridos? Viajar não dá mais. Só fora dessas datas. Até pensei em sair do Rio, passar uns dias em Lisboa com o Chicô, ou em Canela com a minha amiga Ety, ou ainda em Santo André de Cabrália, com a Léa, mas, quando dediquei dois minutos de pensamento à real possibilidade de caos aéreo, pulei fora. Não tenho mais saco – nem idade, é claro – para acabar dormindo em chão de aeroporto e fazendo da mala travesseiro. Cruzes! Nem pensar. E é a isso que estamos reduzidos, né, não? Oito anos de governo Lula, muita prosperidade, muita gente viajando, e tal e coisa e coisa e tal, mas resolver este inferno que virou a aviação civil e seus acessórios ninguém resolve.
Vamos ver se o Jobim, agora, debaixo do cabresto de dona Dilma, resolve esta parada.
Quanto mais não seja para fazer um mimo ao ex-chefe que, a partir deste sábado, vai ter que dar adeus ao Aerolula e encarar os aviões de carreira como os demais mortais. E cara alegre, né, não? Pobre Lula! Espero que já tenham lhe dado aquele ursinho de pelúcia para ele abraçar quando for dormir.
Vai ser duro acordar no dia 2 e dar de cara com o ABC. Vai ser pior do que a ressaca do Réveillon. Não se avexe, não, presidente, quatro anos passam muito rápido. O ano de 2014 taí, tá chegando...
De mais a mais, todos sabemos que o senhor estará ali por perto, sempre à mão para qualquer eventualidade, sempre disposto a ajudar a presidente, que afinal tem menos experiência, ainda não tem aquela intimidade com a churrasqueira do Alvorada, com os copeiros, cozinheiros e todos os demais penduricalhos do poder.
Os brasileiros têm certeza de que o senhor não fugirá a essa responsabilidade, não é mesmo? Vai que é tua, dona Dilma! Um feliz 2011. Um feliz governo. É o que lhe desejo do fundo do coração.