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Pag. 37 - Setenta anos de paixão

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Em entrevista ao Caderno B , por telefone, falando baixo, para poupar a voz, Bibi – sempre carismática e bem humorada, – mostra que sua carreira continua sólida e vigorosa, à espera de mais aplausos.

O que a senhora acha que mudou no teatro ao longo desses anos? – – Acho que quase nada. O teatro é muito simples. São três paredes e a plateia. O que muda sempre é o elenco. Claro que nós vamos apurando a forma de fazer teatro, sempre para fazer melhor.

Ainda que o casamento da senhora com o teatro tenha sido arranjado por seu pai, dentre os outros cinco casamentos, foi no teatro que a senhora encontrou o seu maior amor? – – Acho que sim, eu e o teatro nos demos muito bem, e ainda é assim. Quando era menina, com uns 14, 15 anos, fazia o que todas as meninas da época faziam: estudava piano, aprendia novos idiomas. Nunca pensei em ler uma poesia em voz alta ou falar em voz alta. Mas meu pai precisava de um boom, e acharam que apresentando a filha no teatro ele conseguiria isso.

Que apresentação a senhora considera mais marcante? – – Acho que todas as estreias são marcantes, são difíceis, preocupantes. Independentemente do tipo de peça, o nervosismo é muito grande. É como se tivéssemos uma pergunta à ser feita a plateia que só pode ser respondida em silêncio ou em aplausos.

Acho que algumas das mais difíceis foram Gota d’água , porque trazia cenas de tragédia e Às favas com os escrúpulos . Ainda que a última seja comédia, nas duas é preciso tomar cuidado para o trágico ou o cômico não se tornarem um exagero.

De que forma a experiência é positiva para a carreira? A senhora tem algum segredo, cuidados para estar há 70 anos brilhando? – – Quanto mais se trabalha, melhor é o resultado, maior o conhecimento que se adquire.

Claro que também tomo alguns cuidados. Gastar a voz, falar muito forte, nada disso é bom.

Também não tomo gelado e evito falar muito ao telefone em dia de apresentação.

Por que a senhora deixou a televisão de lado? A paixão é atuar ao vivo mesmo? – – Estreei na TV em São Paulo, em um programa chamado Brasil 60 . Adorava. O problema foi quando surgiu o videotape. Eles paravam a toda hora, e eu fui perdendo o prazer, porque se perdia a naturalidade. A TV é uma radiografia do que você sente, e naquela época meu pai dizia que eu estava com uma expressão de chateação no programa. E era como eu estava me sentindo, mesmo. Quando era ao vivo, me sentia muito mais feliz.

O que é mais prazeroso: dirigir, representar, cantar ou dançar? – – Gosto muito de cantar, talvez porque é uma das coisas mais desafiadoras. Adoro desafios.

Mas todas são desafiadoras a seu modo, o difícil em cantar é acertar o timbre.

A senhora se considera uma pessoa sonhadora, tem aspirações para o futuro? – – Nunca fui muito romântica em minha carreira, apenas em minha vida. Para mim, a carreira é uma profissão que como tal deve ser exercida. O sonho vem quando você tem um papel que é maravilhoso. O que está por vir, vai vir. Não me arrependo de nada que fiz, isso porque o público vem e sempre veio em primeiro lugar para mim.