Um enredo musical, porém , não é uma novidade no histórico da Estação Primeira de Mangueira. Alguma surpresa para o desfile do ano que vem? — Mesmo a Mangueira tendo a tradição do verde e rosa como dupla única de cor, eu e o Wagner Gonçalves , o outro carnavalescos da escola, com o tempo, fomos conseguindo adicionar alguns tons de lilás também. Assim , a Mangueira ganhou uns tons de modernidade sem perder sua roupagem principal. Em relação às distinções quanto à abordagem do enredo, pretendemos começar por momentos mais íntimos e inusitados do poeta Nelson Cavaquinho para só depois, do meio para o final do desfile, falar sobre sua obra. Queremos explorar o formato de crônica para centrar bem na pessoa que ele representou, não apenas no artista. Acho que, com esse formato, ainda não foi feito.
Você trouxe a São Clemente do grupo de Acesso para o Especial, no Carnaval passado. Como foi esse processo? — O primeiro passo para qualquer pessoa que queira ter sucesso em uma escola de samba é conhecê-la. Deve-se entender a mecânica interna que a faz funcionar de um determinado jeito, o que ela gosta e o que precisa dentro de seu próprio contexto. E foi essa interação que aconteceu entre mim e a São Clemente. Não adianta um carnavalesco impor sua estética em uma escola que é forte em sua tradição. A melhor sacada de um carnavalesco é quando ele consegue adaptar a sua arte ao perfil da escola. A partir do momento em que você tem essa compreensão, ela também se torna mais maleável a você.
Então, o carnavalesco é quem traz o dinamismo para uma escola clássica? — Certamente. O próprio mercado acaba filtrando os carnavalescos melhores e mais adaptáveis. Hoje em dia, a figura do carnavalesco tem de ser muito mais política do que artística. Seja na relação com alas, baianas ou direção, deve-se haver um bom e preciso diálogo. Além das boas sacadas, claro. Uma comissão de frente e uma boa bateria muitas vezes já ganharam sozinhas um Carnaval. Sou muito tranquilo, pois sei que, no decorrer do ano até chegar ao Carnaval, muitas coisas podem mudar. Já trabalho nesse universo há 27 anos e sempre parto dessa mesma premissa de não planejar tudo com muita antecedência. Prefiro deixar que as coisas fluam e ganhem a forma certa para, só depois, começar a agir. O público também está mais exigente, os julgadores, a própria Liga. Por isso, figuras onipotentes não ganham Carnaval.