C omo desaparecer completamente , título retirado da música How to disappear completely , do Radiohead, não se filia à prosa moderna, nem pós-moderna. Temos no romance de André de Leones uma escrita sem classificação imediata. Embora seja um romance contemporâneo, não linear, o livro de André de Leones é trabalhado com categorias narrativas tradicionais. Nele, tem-se enredo, foco narrativo, discurso direto/indireto, cujo narrador de terceira pessoa (um dos narradores do romance) é figurado como onisciente.
Não se diz, com isso, que o autor retroceda, apenas que suas rupturas narrativas são de outra ordem.
Os capítulos, que levam nomes de personagens vários, se constituem em monólogos ou em interlocução uns com os outros, o que dissolve a noção de protagonista, muito embora se possa dizer que Mariana pertença a uma das ações principais. Os temas são contemporâneos, sutis reflexões. Basicamente, o enredo do livro nos propõe uma história de relações, histórias dentro de histórias: a de Mariana, separada, e a de João Bosco, escritor, entre outras. Outro elo de ligação entre as partes pode ser o livro rejeitado, de João Bosco, que vira cult, principalmente a partir do capítulo nomeado Angélica . A virada na recepção do romance dentro do romance ocorre a partir da segunda parte, e do segundo capítulo da terceira parte.
Os personagens são pessoas contemporâneas típicas de megalópoles como São Paulo. Poderíamos estar, ao ler Como desaparecer completamente , em Tóquio, em Londres e, por que não, em Nova York? As personagens são mais ou menos fúteis, entediadas, blasés. A cidade fornece luz às personagens, num jogo humano/desumano. Arcos de elástico bem apertado, cada uma delas é uma seta. Quem desaparece é o narrador, dissolvido por meio dos narradores. Que não desapareçam os leitores! Esses se podem prender/despreender aos (dos) elásticos e, como setas, fazerem as trajetórias que o romance propõe.
Jovens, velhos, pessoas de meia-idade; amores, desamores, encontros e desencontros em meio à paisagem urbana de São Paulo; basicamente entre Avenida Paulista, Rua Augusta e imediações. Um bairro ou outro a funcionar como personagens e a fazer das pessoas paisagens, numa espécie de inversão. Nomes de personagens tirados de ruas, bairros, que emprestam humanidade às coisas, coisificam as pessoas. Pessoas tornadas cidade, cidade tornada pessoa. A epígrafe de Osman Lins confirmaria isso: a cidade como persona, assim como os títulos dos capítulos compostos de no.