Tuula convida um aviador s a ra d o para a sua casa, enquanto juhani contrata uma prostituta para se passar por sua namorada. confusões à parte, a história de divórcio do filme não veio de mãos leigas. kaurismäki também já enfrentou divórcios e uma curiosidade que pode passar despercebida do público é que seu nome do meio é o mesmo do personagem da trama: juhani.
– acho que, quando você já passou por aquela situação, sabe falar melhor sobre ela – opina o cineasta. – a experiência com certeza influencia. a minha com divórcio me ajudou a contar essa história, só que de uma forma cômica.
Apesar de ser classificado como comédia, o ciúme mora ao lado chama a atenção para a quebra dos valores familiares, o materialismo e a criminalidade. mas kaurismäki prefere dar leveza à narrativa fugindo da trama séria.
– divórcio é uma coisa muito séria – reforça o diretor. – se você olhar de perto, é sério, mas se olhar de longe tudo é uma farsa, uma comédia.
Existem filmes de divórcio mais realistas, mas, às vezes, quando é sério demais, não tem o mesmo impacto, eu não pagaria o ingresso para um filme assim ( risos ). gosto de seguir por esse caminho nas minhas narrativas.
Não é à toa que o filme, lançado ano passado na finlândia, foi o de maior sucesso comercial de kaurismäki no país.
– eu imaginei que este filme pudesse ir bem nas bilheterias, mas eu não o fiz com esse pensamento – explica. – eu trabalho com o que eu gosto. neste, eu investi em diálogos porque quis trabalhar com a língua. o filme também tem muitos personagens porque há muito tempo que eu não trabalhava com atores de lá. acho que eu nunca vou deixar de ser finlandês. minhas raízes estão lá, é como uma árvore. você não vê as raízes, mas sem elas você cai. acho que minhas raízes estão lá, mas as minhas antenas estão aqui.
Kaurismäki ficou no brasil por acidente. após as filmagens de amazonas (1990), acabou se apaixonando. hoje, o cineasta, que admite ter uma queda por finais felizes, encontra-se dividido entre duas nacionalidades.
– antigamente o brasil era exótico para mim, agora a finlândia é que é – declara. – o meu olhar mudou. acho que hoje o cinema brasileiro já tem um nome lá fora. quando eu cheguei aqui, há 20 anos, o cinema era fraco. mas o brasil é um país grande, tem muita força e muita história. e acredito que seja essa força que esteja vindo para o cinema.