Inquérito militar responsabiliza indicados de general Heleno por falta de planejamento no 8/1
Documento reitera que apenas um pelotão, com 36 homens, foi enviado pelo Comando Militar do Planalto, quando já havia mobilização de bolsonaristas
As Forças Armadas responsabilizam dois órgãos chefiados por militares indicados pelo general Augusto Heleno, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), por não terem feito o planejamento "adequado" para proteger o Palácio do Planalto durante ataque golpista às sedes dos Três Poderes, no dia 8 de janeiro. O "veredicto" consta no inquérito policial militar finalizado em 2 de março e complementado no dia 14 daquele mês. O relatório sigiloso foi obtido pela Folha de S. Paulo.
A apuração preliminar enviada ao ministro Alexandre de Moraes, que relata as investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), aponta que há "indícios de responsabilidade" da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, comandada à época pelo general Carlos Feitosa Rodrigues, e do Departamento de Segurança Presidencial (Dseg), chefiada pelo coronel Wanderli Baptista da Silva Junior.
Feitosa Rodrigues chegou ao cargo em 2021, durante a gestão de Heleno. Foi mantido no governo Lula pelo general Gonçalves Dias, ministro do GSI que pediu demissão em abril após a divulgação de imagens que colocaram em xeque a atuação do órgão durante o 8 de janeiro. Wanderli também foi nomeado por Heleno e mantido por Gonçalves Dias. Ele ficava diretamente abaixo de Feitosa na estrutura interna do gabinete. Os militares, que fazem parte dos quadros do Exército Brasileiro, foram exonerados após a tentativa de golpe.
O inquérito cita de forma genérica, sem identificar os nomes dos militares que estavam no comando, os dois órgãos. No âmbito do GSI, afirma que "resta evidente" que "o planejamento, o acionamento e o emprego" de militares "no tocante às ações ligadas à manutenção da integridade física do Palácio do Planalto e adjacências" cabe à secretaria.
O relatório destaca que, de acordo com o protocolo que define as ações do GSI e do Comando Militar do Planalto (CMP) na defesa do palácio (chamado de Plano de Operações Escudo), competia ao DSeg "acionar o deslocamento" da tropa de choque do Exército.
O documento reitera que apenas um pelotão, com 36 homens, foi enviado pelo CMP por volta das 12h do dia 8 de janeiro, quando já havia mobilização de bolsonaristas em Brasília. A título de comparação, no dia 31 de julho de 2022, quando Bolsonaro convocou manifestações contra o STF, havia 110 militares no Planalto.
"Desta forma, é possível concluir que, sendo realizado um planejamento das ações de segurança adequado, com o acionamento de valor de tropa suficiente, a execução das ações de segurança por parte das tropas do CMP teria melhores condições de êxito. Nesse sentido, a invasão ao Palácio do Planalto poderia ter sido evitada ou minimizado os danos patrimoniais sofridos", diz o inquérito.
O texto cita ainda que "devido a uma previsão de ‘normalidade’ por parte daquele órgão [Secretaria Presidencial] - que não se verificou na realidade -, o efetivo solicitado ao CMP e empregado foi abaixo do necessário diante do grande número de invasores e do comportamento agressivo dos mesmos".
"Noutro vértice, conclui-se que há indícios de responsabilidade da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial/Dseg quanto à invasão do Palácio do Planalto, considerando que houve falha no planejamento e na execução das ações", afirma.