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Diário de um confinamento hospitalar: mãe e filha separadas por um vidro

AFP / Nelson Almeida -
Eunice Schleier conversa com sua mãe, Olivia Schleier, de 81 anos, através de um vidro no hospital Premier, em São Paulo
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Eunice, de 56 anos, visitava diariamente sua mãe, Olivie, de 81, internada por problemas cardíacos em um hospital em São Paulo. Porém, desde que o local entrou em confinamento em março por causa do avanço da COVID-19, mãe e filha substituíram os abraços por um olhar através do vidro.

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Eunice Schleier conversa com sua mãe, Olivia Schleier, de 81 anos, através de um vidro no hospital Premier, em São Paulo (Foto: AFP / Nelson Almeida)

Os 46 pacientes do hospital Premier, em um bairro de classe média, são do grupo de risco. Esse foi um dos fatores para que o centro médico adotasse um confinamento total desde 25 de março, um dia depois de o estado começar sua quarentena parcial.

"Um funcionário pode sair, mas para voltar precisa passar por um pré-isolamento", conta Ruan Oliveira, assessor de comunicação do hospital, que voluntariamente aderiu ao isolamento.

"Entendi que meu papel aqui como comunicador é poder registrar e observar o que está acontecendo. Achei que era importante ajudar, é uma situação que precisa ser contada", ressalta o jovem de 26 anos, que relata ter superado o estranhamento inicial dos primeiros dias desde o confinamento e já ter se acostumado.

Não há muitas diferenças na rotina do Premier em comparação com o período anterior à pandemia, segundo a mãe de Eunice, Olivie Schleier.

"Foi mais difícil no começo, a gente já consegue sair no solarium, conversamos, jogamos alguns jogos, não temos todas as atividades que tínhamos antes", conta Schleier, que nesta quinta-feira recebeu sua filha Eunice e o neto Alexandre por trás do vidro que separa os pacientes dos seus familiares, que costumam apoiar as mãos na superfície como forma de ter alguma proximidade física com os internados.

No local, as visitas são agendadas. Eunice e Alexandre foram ao local já usando máscaras. A proximidade entre mãe e filha é tanta que às vezes é possível não perceber que há um vidro que as separa.

"Sempre fui muito próxima a minha mãe. É difícil, mas é reconfortante porque ela está protegida", conta Eunice com a voz embargada.

De forma voluntária, um chef assumiu a cozinha e todos colaboram com as atividades das instalações. Alguns funcionários agora também ensinam yoga e outras atividades físicas. A previsão é de que o confinamento se mantenha até 30 de junho.

Olivie Schleier, descendente de alemães, teve uma infância difícil em um Brasil marcado pelo pós-guerra.

"Esta não é a primeira crise que vivi", diz ela, lembrando do passado.

"Acho que precisamos lidar com serenidade", aconselha a mulher com um sorriso constante.(AFP)