ASSINE
search button

A idade do universo

Compartilhar

Toda experiência da espécie humana nos leva a acreditar que tudo que existe teve um início. É dessa forma que nos reconhecemos no mundo e em tudo que está ao nosso redor, é isso que nossos sentidos nos ensinam. Essa certeza antropomórfica, incrustada em nosso corpo, foi estendida para todas as coisas como uma lei universal rígida da qual nada escapa. Isso inclui a Terra, os planetas, o Sol. Não é de espantar que essa convicção tenha se estendido até mesmo à totalidade do que existe, o universo.

Entendemos, então, porque todas as civilizações antigas situadas em diferentes áreas geográficas tiveram a necessidade de produzir um modo particular de descrever a criação do mundo. No passado, essa função coube à religião, mas ainda hoje as religiões remetem seu discurso a uma gênese, representando um determinado modo de criação do universo. Foi somente no século 20 que a ciência passou a desenvolver instrumentos formais adequados, permitindo investigar essa questão libertando-a da esfera religiosa com a elaboração de um modelo dinâmico de criação do universo.

E qual foi o resultado dessa investigação científica? Na segunda metade do século 20, tornou-se hegemônica a ideia de que o universo teria tido um começo há uns poucos bilhões de anos. Isso se deveu a vários fatores, mas sua base essencial foi a aceitação, corroborada por observações astronômicas, de que o universo está em expansão, ou seja, seu volume total aumenta com o tempo. Isso significa então que o volume foi menor no passado. A questão passou a ser: quão pequeno foi esse volume total no passado remoto? Efetivamente, as observações realizadas não permitiram identificar esse momento de máxima concentração nem precisar o valor desse volume mínimo. 

Precipitadamente, esse momento de condensação máxima foi considerado um ponto singular, onde o volume mínimo de todo o espaço seria zero. Consequentemente, nada poderia ser dito sobre suas características. Esse cenário, chamado big bang, identificou esse momento extremo, idealizado,  como se fosse o momento de criação do universo. No entanto, não se tratava de um rigor científico, mas tão somente de uma hipótese de trabalho elaborada por uma determinada corrente de pensamento. Tal solução foi imediatamente transformada numa ideia hegemônica propagada pelos meios de comunicação de massa, pois satisfazia à expectativa de que deveria existir um início para tudo.

Há 25 anos, no dia 3 de maio de 1983, o JORNAL DO BRASIL publicou matéria sobre a evolução do universo, informando que físicos brasileiros haviam elaborado um modelo de universo onde não existia um momento de criação num tempo finito no passado. Tal cenário apresentava, assim, um modelo de universo eterno. Nos últimos anos, até mesmo cientistas que defendiam a origem finita e singular do universo, entre os quais o físico inglês Stephen Hawking, falecido recentemente, colocaram sob suspeita a ideia de que o big bang tenha sido o começo de tudo que existe. Começaram, então, a tratar a ideia de um universo bem mais velho como algo mais provável.

Mas qual seria a alternativa viável que substitui a imagem simplista de que o universo começou com uma grande explosão há um tempo finito? A resposta foi dada pela proposta do universo eterno dinâmico: o universo passou por uma fase de contração, onde o volume total do espaço diminuiu submetido a um colapso gravitacional. Atingiu um momento de extrema condensação, de volume global mínimo diferente de zero – identificado com o chamado big bang – e depois transformou seu colapso em um processo de expansão no qual seu volume aumenta. 

É esta fase de expansão que observamos hoje. Segue, então, que o big bang não pode ser considerado o começo do universo. Em verdade, ele é somente um momento de passagem de uma longuíssima fase anterior de contração para a atual fase expansionista. Dito de outro modo, o universo é eterno.

* Professor emérito do CBPF