Ao longo dos últimos anos, o setor privado de saúde tornou-se um dos pilares da assistência médico-hospitalar no Brasil, responsável pela cobertura de um quarto da população. É certo que o setor precisa de um choque de eficiência em todos os elos de sua cadeia. É certo ainda que há constantes desafios para melhorar a relação entre seus atores e com os clientes. No entanto, é preciso também destacar as notáveis contribuições que o setor privado oferece à saúde dos brasileiros.
O público reconhece isso quando coloca o acesso à saúde privada entre as coisas que mais deseja. Se existem reclamações, a satisfação com os planos é a regra e não a exceção. Em 2016, os 48,2 milhões de beneficiários em planos médico-hospitalares fizeram 81,8 mil reclamações na ANS: um índice de 0,17%. Ou seja, temos pelo menos 99% de clientes que não tiveram qualquer reclamação de seu plano. E estamos falando de um setor em que 88% dos consumidores efetivamente acionaram seus planos para um serviço ou outro, segundo recente pesquisa Ibope.
Os que criticam a saúde privada procuram desconstruir esse quadro, acusando as empresas de empurrarem para o atendimento público os clientes que deveriam cobrir. Essa imagem contrasta com a realidade. Em 2016, segundo dados da ANS, os hospitais privados realizaram 56,6 milhões de consultas de pronto-socorro, 7,8 milhões de internações. Muitas delas de alta complexidade. Hospitais e laboratórios tem investido pesadamente em formação profissional, processos de trabalho mais seguros, novas técnicas cirúrgicas e equipamentos de precisão. Entre 2015 e 2016, os prestadores foram responsáveis por investimentos que permitiram a criação de mais de 70 mil novos empregos formais, em plena crise.
Apesar dos avanços, um processo de remodelação é fundamental para fazer frente à nova realidade da saúde, determinada por fatores como envelhecimento, mudança do padrão epidemiológico e incorporação de novas tecnologias. Com ele assistiremos a um novo grande salto no padrão de atendimento médico-hospitalar no Brasil, puxado pela iniciativa privada. O primeiro grande salto foi propiciado pela expansão dos planos de saúde e das redes de assistência privada, responsáveis por dotar o Brasil de uma infraestrutura médico-hospitalar moderna e cada vez mais segura.
O desafio de continuar evoluindo, no entanto, exige foco na busca de maior eficiência e maior entrega para o consumidor. A boa notícia é que a discussão de eficiência já está na agenda das lideranças da saúde privada e envolve, melhor integração do cuidado, qualificação, racionalização da incorporação de tecnologias e melhores incentivos econômicos ao longo da cadeia. Consumidores devem permanecer vigilantes e continuar cobrando dos atores privados da saúde responsabilidade e entrega. Mas passou da hora de adicionarmos ao senso de constante vigilância, o sentimento de orgulho de termos um sistema privado de saúde que, apesar dos desafios, se encontra em constante evolução e é desejado pelos consumidores.
*Consultor econômico da Conf. Nacional de Saúde (CNS) e da Federação Brasileira de Hospitais (FBH).