Apesar da propaganda de proteção aos indígenas, o governo brasileiro contribui para a "destruição das terras e dos seus povos nativos" através do financiamento de grandes obras, como a construção da hidrelétrica de Belo Monte. É o que afirma Romilson Cretã, diretor nacional da Associação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que participa das reuniões da Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo.
E foi exatamente com o objetivo de impedir novos investimentos milionários para obras danosas aos territórios indígenas que uma comitiva com doze representantes de etnias brasileiras se reuniu com o vice-presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), João Carlos Ferraz, na manhã desta segunda-feira (18), após fortes protestos em frente a sede do banco.
No encontro, os representantes entregaram um documento em que pedem mais respeito aos territórios indígenas, contou Cretã, que também participou da reunião. Segundo ele, na conversa com Ferraz, os índios falaram sobre os prejuízos e impactos causados pelos projetos financiados pelo banco.
Antes do evento, cerca de dois mil indígenas vestidos com trajes típicos e portando arco e flecha, protestaram pelas ruas do centro da cidade e tentaram invadir a sede do BNDES, que precisou reforçar a segurança e fechar as entradas. Para Cretã, estas manifestações são importantes, principalmente devido à visibilidade que a Rio+20 e a Cúpula dos Povos têm trazido para a causa.
“Nós nos sentimos vistos aqui pelo mundo inteiro, é importante que as pessoas saibam que apesar da propaganda que o governo faz, de proteção aos povos nativos e as terras, a verdade é outra, completamente diferente”, afirmou.
Grandes hidrelétricas, ferrovias, portos, plantações de eucalipto e as usinas de cana-de-açúcar, além da construção de Belo Monte, foram alguns dos projetos citados por Cretã, que é da etnia Kain Gang, localizada no Paraná, como grandes problemas para a proteção dos povos.
Condições precárias
Em entrevista ao Jornal do Brasil, ele afirmou que dezenas de crianças indígenas vivem atualmente em acampamentos sem nenhuma infra-estrutura, devido às desapropriações feitas pelo governo para a construção dos projetos financiados pelo BNDES.
O indígena contou também que, “muito além dos eventos atuais”, os ativistas já se reúnem anualmente para debater propostas contra o uso de dinheiro público em projetos que destroem terras nativas, no “Acampamento Terra Livre”, que em 2012 completa sua nona edição.
“Eles nos tiram da nossa terra, onde temos as fontes para a nossa sobrevivência, e nos colocam em acampamentos, sem escola, sem saneamento, sem nada. É um absurdo. Não adianta o país ter a pretensão de ser a 5ª maior economia do mundo sem respeitar suas raízes, seus povos de origem”, afirmou.
Os ativistas nacionais que fazem parte da Apib estão alojados em acampamentos no Sambódromo, mas não reclamam das condições, apenas da falta de representatividade nas reuniões oficiais da Rio+20. A questão foi apontada como um dos motivadores para a realização de protestos e eventos mais politicamente engajados, segundo Cretã.
“Viemos aqui para reivindicar, para protestar contra os projetos que estão sendo negociados aqui sem a nossa representatividade. Pretendemos lutar pelos nossos direitos, temos certeza que a visibilidade deste evento (Cúpula dos Povos e protestos) vai nos ajudar, pois a população do mundo inteiro está aqui, assistindo isso", finalizou.