ASSINE
search button

Vocações da economia fluminense

Compartilhar

Quando se ouve, como voz corrente, que a vocação do Rio de Janeiro – estado e cidade – é principalmente a turística, incorre-se numa simplificação da interpretação da economia do estado. Para um estado com participação de 11,8% no PIB nacional e a segunda maior economia do país, priorizar um só vetor produtivo é desconhecer um parque industrial já instalado no setor metalúrgico, siderúrgico, naval, químico e petroquímico, sem falar no petróleo, maior produtor entre todos os estados brasileiros.

É evidente que a economia fluminense vive um momento de crise, como de resto todo o país. Aqui a situação agravou-se em função da péssima gestão dos últimos governos, incluindo o atual, que culminou com alguns de seus principais dirigentes na cadeia, por isso as últimas pesquisas apontam, para as próximas eleições, mais de 35% de votos brancos e nulos, além do absenteísmo. Amarga realidade que vive nossa população, de quem se espera, no próximo pleito, discernimento na escolha de seus futuros dirigentes.

Estudiosos afirmam que o mundo vive uma fase pós-industrial. Para países em desenvolvimento como o nosso, a revolução industrial, que para nós chegou com quase meio século de atraso, ainda está em seu curso estimulador da economia nacional, pois ela é ainda a maior geradora de empregos qualificados.

A indústria da transformação é que gera empregos formais de melhores salários, estabilidade e confiança, em razão da carteira de trabalho assinada e do desenvolvimento profissional do trabalhador, em virtude das necessárias inovações tecnológicas para manter-se competitiva.

É essencial diversificar nossa economia, hoje centrada principalmente na petroquímica, refino e siderurgia. A recuperação da indústria em nosso estado exigirá políticas voltadas para outras atividades produtivas, como a química fina, informática, biofármacos, aproveitando-se dos campi de pesquisas científicas já instalados.

A retomada do crescimento econômico do estado pressupõe a implantação de polos de desenvolvimento econômico, com prioridade em cidades de porte médio do interior do estado, de forma a gerar trabalho para suas populações e amortecer, assim, as pressões sobre a região metropolitana. O nosso estado é o mais urbano do país. Nada mais justo e razoável que se planeje o desenvolvimento dessas cidades, com oferta de trabalho para os seus habitantes.

É inquestionável o grande potencial turístico e econômico de regiões do nosso estado, como a cidade do Rio de Janeiro – principal porta de entrada do turismo interno e internacional. As regiões Serrana, Costa Verde e dos Lagos compõem-se de cidades já dotadas de um razoável equipamento turístico, como rede hoteleira, mão de obra treinada, além das belezas naturais.

Porém, é importante ter em mente que cidades monotemáticas, que se constituem pelo turismo de massa, servem para ser consumidas, sempre à disposição de seus visitantes, que delas fazem o que querem. Por não terem vínculos, uma vez que estão de passagem, quase sempre as degradam ou as vandalizam, principalmente nas ocasiões de grandes festas populares ou de alta temporada.

O turismo é atividade geradora de emprego, embora não a única em cidades com vocação turística. Deve-se sempre pensar na defesa da vida cotidiana de seus moradores e na preservação da integridade do patrimônio material e imaterial de cada cidade. O uso dos espaços públicos dessas cidades deve ser orientado por um conjunto de regras de conduta citadina, fiscalizado pelo poder público, em contraponto à comum sujeição a comportamentos de viajantes que muitas vezes jamais retornarão.

É hora, portanto, de valorizar as vocações regionais do nosso estado, sem perder de vista a cultura e a história de suas cidades e de seus cidadãos, para que o desenvolvimento, ao trazer recursos e bem-estar, não contribua para a perda de conexão da população com o seu território, terra mãe, que a gestou.

* Arquiteto e urbanista

Tags:

artigo