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Dicas do Aquiles: Uma grata surpresa

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Hoje falaremos de um contrabaixista, João Mario Macedo, que é pouco ou quase nada conhecido pelos admiradores de música de qualidade (meu Deus, que sina! Até quando ela existirá, tornando grandes instrumentistas quase “invisíveis”?). Hoje, João Mario lança o CD “Só na multidão” (independente). E eu, que já sabia de seu talento como instrumentista, fiquei surpreso e feliz ao perceber que, dentre seus dotes, está também o de ser um compositor admirável.


Contando com a participação de inúmeros colegas com quem conviveu ao longo de seus 30 anos de carreira, o álbum traz apenas músicas de sua autoria e pode ser reverenciado como um belo e bem mixado trabalho.
A tampa se abre com o tema jazzístico “Quem matou o Sr. L”. Com arranjo do guitarrista Thiago Trajano (único arranjo do CD que não é de JMM), o som de três saxes (alto, tenor e barítono), dois trombones, três trompetes, o contrabaixo sempre firme e seguro de JMM, mais batera e piano, é vibrante e muito bem tocado. Cada “ataque” dos sopros arrepia. Um solo de trompete (Vander Nascimento) agrega genialidade ao arranjo. Desenhos melódicos bem traçados aperfeiçoam a composição de JMM.


“Só na multidão”, além de titular o disco, puxa a sua sonoridade para uma salsa. Os contrabaixos (acústico e fretless) de JMM indicam o ritmo, para o qual se voltam a batera do craque Wilson Meireles (ele que usa os pratos com sabedoria) e os belos solos de guitarra (Robertinho de Paula), trombone (Vincent Malroux, músico francês a quem JMM dedica agradecimento especial), piano (João Braga) e guitarra (Eduardo Balthar).


“Chorando baixo” revela o som característico do universo das gafieiras, em que o choro é destaque. A melodia está com o trombone de Vincent Malroux, que soa dobrado com o baixo acústico de JMM, o piano de João Braga e o violão de Eduardo Balthar. Na sequência, um solo especial do piano e um caprichado improviso do violão têm destaque.


Composta inicialmente por JMM para um curta-metragem, “Tangoleonia” é tango para argentino nenhum botar defeito. Graças à dobra da guitarra de Marcos Amorim com o acordeom de João Bittencourt, a levada, tão suingada, se faz mais esperta. O baixo acústico de JMM dá peso à guitarra, levemente dIstorcida. O piano dedilha notas arritmo até desembocar numa adequada citação a “Adiós Nonino”, do grande Astor Piazzolla.


E para fechar a tampa, “O nosso amor”, uma delicada canção apenas com voz (Cristiano Gualda) e violão (Fábio Nin). A ausência do contrabaixo revela não só generosidade da parte de JMM, como também mostra a preocupação de tornar o CD uma obra multifacetada. Para tanto, bom é o conceito de fechar docemente, contrapondo-se à quebradeira da faixa inicial.


Inteiramente autoral, “Só na multidão” conta com repertório de gêneros variados e arranjos de grande sensibilidade, virtudes que vêm comprovar que de fato, além de contrabaixista versátil – músico com a música à flor da pele –, João Mario Macedo se revelou um bom compositor.

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cultura