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Cesar Oiticica Filho recria negativos derretidos durante incêndio, em mostra no MAM sobre o fim da fotografia

Cesar Oiticica Filho/Divulgação -
Fotos de eventos como um festival de música foram recriadas, após serem danificadas por fogo e calor de incêndio
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A partir de um incêndio que, em 2009, destruiu parte de suas fotos e equipamento, Cesar Oiticica Filho reinventou as sobras de seu trabalho, no processo de transformação que apresenta a partir de sábado no Museu de Arte Moderna, em “Metaimagens”.

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Fotos de eventos como um festival de música foram recriadas, após serem danificadas por fogo e calor de incêndio (Foto: Cesar Oiticica Filho/Divulgação)

O curto-circuito que pôs em chamas a sala do Projeto Hélio Oiticica – do qual era curador, no Jardim Botânico – acabou dando origem à analogia que o artista plástico, fotógrafo e cineasta faz sobre o que considera o fim da fotografia como nós a conhecemos, com o advento das imagens digitais.

Daí vem o nome dado por Cesar às “metaimagens”, modificadas ao acaso de um acidente, pelo fogo, “que sempre transforma as coisas, até na forma metafísica”, de fotografia em outras formas de expressão, a partir das imanes saturadas em sensações psicodélicas.

“Parto do fim da fotografia, inclusive do meu equipamento, de por que a fotografia, como a gente usava antes, é quase impossível hoje. Não tem muitos laboratórios, o material fica caro, tem uma série de limitações… Então, aqui é a fotografia que explodiu, acabou, derreteu, mas você tem a imagem”, perfila.

“A profusão de imagens que temos hoje invadiu nossa vida. Mas, quando ela é impressa, é mais pintura, porque é um pigmento sobre o papel. Já na tela de smartphone, ou de tablet, vira mais projeção, porque tem uma luz por trás”, especifica, antes de explicar como distribui as partes da exposição.

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Fotos de eventos como um festival de música foram recriadas, após serem danificadas por fogo e calor de incêndio (Foto: Cesar Oiticica Filho/Divulgação)

No meio do foyer do MAM, o “Núcleo Metaimagético” foi a primeira peça da mostra a chegar ao local da exposição, da qual é a obra central. Trata-se de uma instalação com os negativos e cópias atingidos pelo incêndio e, depois, modificados pelo artista, cercados por um arranjo de lâmpadas, que reproduzem o calor da luz, além do fim da antiga imagem fotográfica para o início da série de novas possibilidades trabalhadas e expostas no museu.

“Ali, a gente vai ter os filmes, mostrando isso”, conta Cesar Oiticica Filho, apontando à parede. “No final, vira a projeção, com uma tela redonda. Então, ela vai saindo da tela como é a do smartphone, da televisão… e aqui [aponta mais para o meio], vão ficar objetos, que é uma outra característica, hoje, da imagem digital, em que você pode produzir objetos, por exemplo, fazendo fotos em 360° em torno de objeto e vai poder imprimir isso no 3D”, ressalta o artista, que, na exposição também reúne trabalhos anteriores em uma perspectiva conjunta.

Trata-se da Trilogia Brasil 2016, com três jarros de vidro – os “transobjetos” –, de aproximadamente 20cm de diâmetro e 30cm de altura, cada. O primeiro contém uma porção de grãos de feijão contornada por grãos de arroz; o segundo, uma vela de gel acesa sobre água. O terceiro junta óleos de soja e de dendê, que, tendo diferentes densidades, que disputam o espaço.Os filmes aos quais se refere Cesar estão entre alguns de seus trabalhos mais próximos de cinema, animação e vídeo, que serão projetados no fundo do foyer, como o filme-performance “É tudo verdade” (2003), feito originalmente em Super 8 e depois transferido para digital; “A dança da luz”, também de 2003; e “Para os seus olhos somente”, de 2018.

Em seguida às projeções e os “transobjetos”, a exposição se volta para um “rolezinho virtual”, a partir de um filme feito por Cesar Oiticica Filho, em 2017, em Nova York, com um smartphone, em um passeio de skate. “Depois das projeções e dos objetos, vem a realidade virtual, em que os visitantes vão subir em um skate que eu fiz, só que sem roda”, brinca. Com headphones e óculos de realidade virtual, os visitantes poderão acompanhar o filme “Rolezinho”.

Já com as “Metaimagens” em andamento, o público ganhará uma atração extra e interativa na exposição, com as “Caixas de Dança ‘1’ e ‘5.0’”, que serão instaladas no pilotis do MAM, onde haverá música, como em uma festa. As caixas chegam ao pátio do Museu de Arte Moderna em 22 de setembro, um sábado, após as três primeiras semanas da exposição – que, depois, ainda segue até 28 de outubro.

Concebida em 2002, a “Caixa de Dança 1” é composta por dois macacões de LED, que captam e registram os movimentos do visitantes que os vestir. “É uma instalação em que você veste umas tiras com LED, presos com velcro ao corpo, dança e, no final, tem uma imagem em baixa velocidade da sua dança, que eu envio por e-mail”, conta o artista, que admite uma semelhança com os parangolés, criados no final da década de 1960 por seu tio, Hélio Oiticica (1937-1980), com panos coloridos para serem usados por participantes de encontros artísticos e partes soltas de forma que ganhassem movimento. “No começo, eu mesmo chamei de ‘ParangoLED’”, lembra. “Mas parei logo, porque é uma ideia diferente”, afirma.

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Artista usou Photoshop para saturar mais a transformação feita pelo derretimento dos negativos de fotos (Foto: Cesar Oiticica Filho/Divulgação)

Junto aos macacões de LED, virá a “Caixa de Dança 5.0”, criada neste ano para as “Metaimagens”. Esta já é uma instalação externa, formado por quatro telas translúcidas, dispostas como paredes de um cubo. Com seis metros de um algodão muito fino, elas terão projetadas imagens que serão vistas tanto do lado de fora quanto de dentro. Ao fim, haverá a a instalação sensorial “SolAr”, com tapa-olhos, “para esquecer da imagem e só relaxar ao calor da luz infravermelha”.

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Artista usou Photoshop para saturar mais a transformação feita pelo derretimento dos negativos de fotos (Foto: Cesar Oiticica Filho/Divulgação)

A projeção será feita de forma a mostrar, as imagens em movimento em sentido de fuga, quando vistas do lado interno, e convergentes, ao serem olhadas de fora do cubo. A ideia de Cesar Oiticica Filho é de criar uma sensação de contração versus expansão.

A exposição ainda tem pinturas que compõem a parte visual com os negativos derretidos e reinventados pelo artista em computador. “Usei o Photoshop para dar maior saturação à transformação feita pelo fogo, mas não os pintei”, explica.

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SERVIÇO

METAIMAGENS

MAM. Av. Infante Dom Henrique, 85, Aterro, altura do Castelo. Tel.: 21. 3883-5600. DE 1º de setembro a 28 de outubro. De terça a sexta, das 12h às 18h. Sábado, domingo e feriado, das 11h às 18h. Ingressos: R$14. Quartas-feiras a partir das 12h: entrada gratuita. www.mamrio.org.br.

Cesar Oiticica Filho/Divulgação - Fotos de eventos como um festival de música foram recriadas, após serem danificadas por fogo e calor de incêndio
Cesar Oiticica Filho/Divulgação - Artista usou Photoshop para saturar mais a transformação feita pelo derretimento dos negativos de fotos
Cesar Oiticica Filho/Divulgação - Artista usou Photoshop para saturar mais a transformação feita pelo derretimento dos negativos de fotos
Cesar Oiticica Filho/Divulgação - Fogo transformou fotos para outras formas de arte
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cultura