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Márcia & Manu, a dobradinha Müller na arquitetura brasileira

José Peres / JB -
Nesta entrevista, Márcia e Manu revelam detalhes sobre concepção de projeto
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Fomos até ao encantador showroom de Simone Orléan, em Ipanema, para entrevistar as lindas arquitetas Márcia Müller e sua filha, Manu Müller. Márcia dispensa maiores apresentações. Bastaria lembrar que é a arquiteta de todas as residências de Flora e Gilberto Gil - em Salvador, na Serra e na cidade do Rio de Janeiro, onde ela já assina o segundo apartamento da família, agora no Edifício Chopin - quem passa pela Avenida Atlântica vê, na janela, a placa da obra de sua autoria.

Márcia tem diversos trabalhos memoráveis. Para a Clínica Ivo Pitanguy, a TV Globo, a Som Livre e as construtoras CHL, RJZ & Cyrella e Latini Bertoleti. Há dez anos, mãe e filha trabalham lado a lado em simbiose familiar, em projetos únicos. E são sucesso por todo país. Juntas, elas têm sido, invariavelmente, protagonistas em espaços dos mais elogiados das edições mais recentes do CasaCor.

Macaque in the trees
Nesta entrevista, Márcia e Manu revelam detalhes sobre concepção de projeto

A parceria Müller é um dos destaques que agitam o CasaCor RJ 2018, a acontecer de 18 de setembro a quatro de novembro, instalado no prédio do Grupo Monteiro Aranha, na Glória, onde elas terão um espaço nobre: o Living. Nesta entrevista, Márcia e Manu revelam detalhes da concepção deste projeto.

O repórter JOÃO FRANCISCO WERNECK conversa com elas sobre a relação de trabalho mãe-e-filha, a arquitetura no Rio de Janeiro e o que nossa cidade representa para a decoração e a arquitetura no Brasil.

De onde veio o seu interesse por arquitetura?

Márcia Müller - Eu sempre adorei casas, decoração também. E tudo começou porque meus pais eram amigos do Sérgio Rodrigues. Um dia fomos até uma casa dele, em Petrópolis. Fiquei muito impressionada com aquela casa, os objetos, a decoração, toda sob medida para alguém. Então, essa coisa chamada tailor made (sob medida), uma arquitetura artesanal, feita para alguém específico, achei isso algo muito humano. Porque a arquitetura que imaginava era algo mais distante. Quando eu vi um ambiente tão técnico, tão especial, eu me apaixonei pela arquitetura imediatamente. E a arquitetura deve caminhar neste sentido. Ela precisa ser especial para alguém. Ela nunca pode ser feita em série, estratificada.

Como alguns conjuntos habitacionais...

Márcia Müller - Eles retiram um pouco dessa humanidade que a arquitetura deve passar. Qualquer conjunto habitacional é desumano. Eu acho que esta estratificação da arquitetura é justamente estratificar também o ser humano. E nós somos diferentes, pensamos diferente, nos vestimos de forma diferente. É preciso traduzir as especificidades humanas tecnicamente. Esse é o desafio dessa nova geração: Fazer com que essas novas tecnologias sejam sempre humanas. Eu acredito nos humanos.

No momento, um de seus projetos é o apartamento de Gilberto Gil. O que há para contar sobre este projeto?

Márcia Müller - Eu trabalho com o Gil há muitos anos. O casal tem uma atitude muito interessante que é a da participação. São muito participativos. Minha função lá é exclusivamente técnica. Porque eles sabem o que querem, e têm uma bagagem muito grande, não é? A casa tem exatamente a cara deles, da Flora e do Gilberto Gil. É uma casa agregadora, comunitária. Um ambiente para congregar pessoas, para receber, totalmente família. Uma casa do conforto, do bem-estar, com um olhar estético deles, desenvolvido pela bagagem cultural de cada um. São pessoas que viajam o mundo inteiro. Sua casa é uma colagem do que gostam. Não existe, por lá, aquela história de “está na moda, é tendência…”.

De onde veio essa relação de confiança?

Márcia Müller - Veio da Flora, né. Ela é uma pessoa maravilhosa. Ela me chamou pela primeira vez para trabalhar em um projeto em São Conrado. Depois disso é que as coisas foram evoluindo. E o mais sensacional de trabalhar com eles é que cada casa tem um olhar diferente. A cada momento eles pensam sobre a casa de uma forma. Eu fui a pessoa que traduzi isso tecnicamente. É um prazer e um aprendizado.

Como será esta participação no CasaCor RJ 2018?

Márcia Müller - Levaremos o nosso mix de trabalho, que é olhar moderno da Manu, e o meu, de experiência de muitos anos no mercado. A Manu traz muita cor aos meus projetos. Trata-se de trabalho que representa o nosso olhar sobre determinado momento. Um olhar sobre o que está acontecendo com o Rio de Janeiro, sobre a nossa cidade, e também sobre o nosso escritório, que como tudo na vida também evolui. Eu penso que em cada momento a gente tem um olhar sobre a vida, sobre o trabalho, sobre o espaço. Então o CasaCor é uma mistura de tudo. É a tradução de vários olhares sobre diversos temas. E nós levaremos até ela o charme, será charmosa, e a faremos o mais carioca possível.

Vocês estão preparando um living…

Márcia Müller - É um living multifuncional, uma sala de estar, escritório e cozinha. E tudo muito prático, simples, aquilo que não dá trabalho. Há um conceito tropical, alegre, que valoriza a nossa cidade. Essa é uma missão do nosso trabalho: valorizar o Rio de Janeiro. O Rio, afinal, é é a cidade que a gente ama.

E como é trabalhar com sua filha, Manu Müller?

Márcia Müller - São mais prós do que contras, sem dúvida. Obviamente a maior dificuldade era essa relação, que antes de tudo é de mãe para filha, mas que, no ambiente de trabalho, passa a ser profissional. Então é preciso transformar a relação afetiva em profissional, este foi o nosso grande desafio. Acho que todos que fazem essa transição, essa proposta familiar, encontraram dificuldades iniciais. Isso se aplica tanto às grandes empresas quanto a nossa, que é uma butique.

O que as une em termos profissionais?

Márcia Müller - São praticamente dez anos trabalhando em conjunto. Trata-se de um processo contínuo dessa gestão familiar. Mas o que nos une é a vontade de seguir na mesma direção. E um filho traz inúmeras vantagens ao trabalho, um olhar moderno, transgressor. E crescer no olhar do filho é o desafio dos pais. É admitir que talvez ele saiba mais sobre determinado assunto. É preciso, para ambos, aprender a escutar. Entender o que cada um pode agregar, isso é o desafio.

E para você, Manu, como é trabalhar com sua mãe?

Manu Müller - É um aprendizado. É um exercício de crescimento profissional e emocional. Não é fácil. Ela é a minha inspiração. Eu sempre gostei de decoração e arquitetura, mas estudava cinema. Um belo dia acordei e falei: “Vou trabalhar com a minha mãe”. Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito. Ela está no mercado há algum tempo, tem um escritório, um nome. Então, abri mão do cinema, e não me arrependi.

O CasaCor RJ 2018 apresenta a nova cara da arquitetura carioca. Que cara é essa?

Márcia Müller - É uma cara excepcionalmente charmosa. Carioca e charmosa. O Rio tem um charme que não existe em outros lugares. E esse charme é cultural. Todo carioca carrega isso na genética. Uma cidade que já teve reis, piratas e presidentes, rica e diversificada em cultura. O Rio de Janeiro carrega uma bagagem cultural muito grande, e tem a beleza natural, os morros, a topografia; o mar e a montanha. É mestiço, e por isso é charmoso.

São vários projetos desenvolvidos ao longo dos anos. Há algum de sua preferência?

Márcia Müller - O CasaCor de São Paulo, que foi ótimo para nós. Fizemos uma parceria com a Orléan, e apresentamos uma sala de estar, com referências tanto do Rio quanto de São Paulo. Ao contrário do que se pensa, elas são cidades super complementares. A parte urbana de São Paulo complementa a parte despojada do Rio. Outro projeto marcante foi o do CasaShopping, de 2014. Fizemos um banheiro com a Deca. Foi maravilhoso.

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JÁ ESTÁ sendo negociado com as prefeituras de Maricá e Volta Redonda e com o Estado da Bahia, o ônibus não poluente, que, em vez de fumaça e barulho, libera vapor d’água, invento da Coppe-UFRJ, pelo professor Paulo Emílio de Miranda. Foram quase 20 anos de pesquisas e testes para se criar esse veículo com tecnologia inédita, dentro de meses em fase de produção pré-comercial.

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Com João Francisco Werneck