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Por que treme o mercado?

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O que já vinha sendo ensaiado realizou-se, e o dólar rompeu a barreira dos quatro reais antes mesmo do início do horário eleitoral. Hoje deve ser divulgada uma pesquisa Datafolha, e se ela confirmar as duas últimas (CNT/MDA e Ibope/Estadão/Rede Globo), o mercado deve continuar encenando a farsa do “risco eleitoral” e o dólar pode bater hoje nos R$ 4,50. Ontem mesmo já era vendido a R$ 4,40 para turistas. As últimas pesquisas trouxeram Lula em alta, com 37%, e Bolsonaro liderando quando Lula é tirado do páreo. Como isso não é novidade para ninguém, e o mercado acha que Lula não será candidato, o ataque de ontem foi meramente especulativo, destinado a gerar ganhos. Esperteza mesmo.

O cenário de um segundo turno entre o PT e Bolsonaro apavora a elite econômica (e parte do espectro político conservador) porque estará proposta uma escolha de Sofia: abraçar o capitão da extrema direita, com seu despreparo e suas promessas de involução, ou assimilar um novo governo petista. Hoje, este é o segundo turno que as pesquisas apontam, mas algumas etapas ainda precisam ser cumpridas, como a realização de mais debates e o início do horário eleitoral. No caso do PT, não houve ainda o desfecho do caso de Lula nem sua provável substituição por Fernando Haddad.

E como em todos os cenários de segundo turno Lula derrota Bolsonaro, o que o mercado teme é um novo governo petista, tentando reeditar o “risco Lula” de 2002 antes da hora e sem motivos. Nos governos petistas, como já foi dito pelo próprio ex-presidente, os bancos e o mercado ganharam dinheiro como nunca. E não há, no programa de governo divulgado, nada que possa apavorar o mercado, que neste momento explora o nevoeiro para que alguns ganhem dinheiro.

No tempo certo

Embora não vá ser acatada, a determinação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, para que o Estado brasileiro garanta a candidatura Lula, vai ser de enorme valia para o PT, na busca do calendário perfeito para seu plano eleitoral. O TSE e seu relator, ministro Barroso, tendiam a resolver rapidamente a situação de Lula, mas o fato novo, de repercussão internacional, exigiu observância mais rigorosa dos ritos e dos prazos. Hoje termina o prazo para contestações à candidatura. Barroso notificará o PT, que terá sete dias para se manifestar. As alegações serão entregues no último minuto do dia 30. Como o Ministério Público terá dois dias para se manifestar, o horário eleitoral começará, no dia seguinte, com Lula candidato. E com uma peça forte, uma parte de sua fala no dia em que foi preso, quando diz que continuará andando e sonhando através dos Lulas que surgirão.

Se os prazos foram rigorosamente observados, o parecer de Barroso só chegará ao plenário na primeira semana de setembro, mas o julgamento deve ser retardado por ações da defesa de Lula, exigindo um pronunciamento sobre a recomendação do comitê da ONU.

Enquanto isso, o eleitor estará vendo Lula como candidato no horário eleitoral. Para o PT, quanto mais isso durar, mais viável será a transferência de votos para o substituto. O material para os programas está sendo preparado com vídeos disponíveis intercalados com a narração em off.

Para quê isso, FHC?

O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no “Financial Times”, contestando o que Lula publicou no “The New York Times”, foi um gesto de inútil desgaste. Em política não pode haver gesto inútil, dizia Ulysses Guimarães. FHC dedicou-se a contestar a versão de Lula, de que é perseguido pela Justiça para que não seja candidato. Por mais razão que tenha, ele não representa o Judiciário nem o Estado brasileiro. E como lá fora a prisão e interdição de Lula são vistas como desdobramento do impeachment, FHC acabou se vinculando ao processo que a esquerda chama de golpe. E não só a nativa. Foi isso que disse, em artigo também publicado ontem no jornal “O Público”, de Lisboa, o ex-primeiro ministro português José Sócrates, em defesa de Lula.  

  

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política