O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

LCA: Inflação do IPCA cai a 3,6% em abril

Publicado em 29/04/2024 às 16:02

Alterado em 29/04/2024 às 16:02

A queda da inflação em 12 meses deve continuar em abril. Segundo projeção da LCA Consultores, o IPCA de abril deve subir 0,36% (mais que o dobro dos 0,26% de março) pela aceleração prevista em Alimentação, sobretudo de alguns produtos “in natura”, bem como pela aceleração de Artigos de residência (alta de mobiliário e de aparelhos eletroeletrônicos), Vestuário (em alta sazonal) - estamos às vésperas do Dia das Mães e o comércio aproveita para ampliar as margens de lucro.

A LCA aponta ainda pressão em Saúde e Cuidados Pessoais (com reflexos do reajuste autorizado em produtos farmacêuticos de +4,5% no fim de março). Os preços monitorados deverão subir 0,69% por conta de produtos farmacêuticos e correios. Se o número estiver certo, como o IPCA subiu 0,61% em abril de 2023, a inflação que estava em 3,93% nos 12 meses encerrados em março cairá para a faixa de 3,72%. A alta nos quatro primeiros meses ficaria em 1,78%, quase um ponto percentual abaixo dos 2,72% de igual período de 2023.

Para o ano de 2024 a LCA consultoria projeta 3,7% de alta do IPCA, que estaria dentro do teto da meta (3%+ 1,50% de tolerância= 4,50%). Já o Bradesco, ao analisar a alta de 0,21% no IPCA-15, bem abaixo das previsões, pela desaceleração em alimentos e queda dos combustíveis, que resultou em deflação de 0,49% em Transportes no IPCA-15 de abril (a LCA projeta nova queda, mais modesta no IPCA cheio do mês para -0,18%, após os -0,33% de março) considera que o retrato atual mostra uma inflação “benigna” na margem. Para o Bradesco a pressão em bens industriais parece pontual, relativamente concentrada em itens de higiene pessoal. Por isso, manteve um cenário construtivo para núcleos ao longo deste ano. A projeção para 2024 é que a inflação termine o ano em 3,4%, para 2025 a previsão é de 3,2%.

Esses números são importantes para mostrar a acomodação da inflação às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), dia 8 de maio. O Copom pode ter mais clareza das tendências domésticas e ficar mais atento aos sinais do Federal Reserve que decide três horas antes a tendência da política monetária, após sinais de forte desaceleração da economia americana em março – que já se reflete na inflação.

Campos: o fator externo pesa mais

Em evento público na 6ª feira, antes de entrar no período de silêncio, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, explicou que seus comentários mais frequentes da conjuntura externa se devem ao fato de ser o fator mais importante para o cenário doméstico. Ainda bem. Como critiquei, deu-se ênfase exagerada ao comunicado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a mudança das metas do déficit primário, que em nada alteraram a previsão já pessimista do mercado para 2024 e 2025.

O presidente do BC reforçou que o cenário dos Estados Unidos não tem uma relação mecânica com o Brasil, mas que é preciso avaliar como isso terá impacto no cenário de inflação, como uma eventual desvalorização do real e aumento no custo do crédito. Para ele, os dados do IPCA-15 vieram melhores do que ele esperava. Por isso, é preciso ver a tendência de inflação na meta se realizar, pois as expectativas, hoje, ainda estão longe do centro da meta.

Disse ainda que não é possível dizer que a inflação de serviços vem do mercado de trabalho. E finalizou ser "importante perseverar na parte fiscal, porque dá mais poder e potência para a política monetária. A parte fiscal não tem uma relação mecânica com a monetária, mas pode contaminar", destacou.

Itaú destaca 'expectativas de inflação'

As expectativas de inflação, mesmo as de prazos mais longos, têm papel crucial na dinâmica de inflação no horizonte relevante de política monetária (seis trimestres à frente). Particularmente, no caso de desvios frente à meta de inflação, não é só o nível da desancoragem que importa, mas também o tempo em que o descolamento persiste, advertiu o Itaú em estudo publicado dia 25.

No modelo do BCB, devido à indexação muito forte da economia brasileira, as expectativas possuem um componente inercial (dependem da própria expectativa de inflação) e um adaptativo (dependem da inflação passada). Assim, um choque nas expectativas de inflação demora a se dissipar. Como resultado, um choque de 50p.b. nas projeções de inflação por um trimestre resulta em um aumento de 36p.b. na inflação prospectiva ao longo dos seis trimestres seguintes.

“Em um cenário de aproximadamente três trimestres de desancoragem calculamos um impacto de +52p.b. na inflação esperada. Adicionalmente, mesmo que adotemos a hipótese improvável de reancoragem imediata para a meta de 3,0%, ainda existiria uma penalidade porque as expectativas permaneceram algum tempo acima da meta”, explica o Itaú.

Em termos práticos, se a Petrobras é mais cautelosa no reajuste de combustíveis, porque o petróleo do pré-sal lhe custa US$ 30, ou menos de 35% do preço do tipo Brent, ela evita um importante efeito inflacionário, sobretudo no cálculo dos valores da mão-de-obra no mercado de serviço, muito atrelado ao valor do preço da gasolina. A indexação é como uma pedra atirada num lago, produz ondas sucessivas, mas não comtempla efeito inverso na redução dos preços da gasolina.

Quando a Selic vai parar

Dada a dinâmica e o balanço de riscos do cenário atual, que, entre outros fatores, envolve um cenário externo mais desafiador e uma atividade econômica e mercado de trabalho doméstico resilientes, vemos pouco espaço para redução das expectativas de inflação à frente, o que, por sua vez, impacta a indexação da economia e a própria dinâmica de preços.

Isso não implica que a autoridade monetária deveria resignar-se, ao contrário. Com desancoragem persistente, é necessário manter a taxa de juros em nível contracionista por mais tempo para que a inflação convirja para a meta. O Itaú que elevou a projeção da Selic em dezembro de 9,25% para 9,75%, está projetando agora que o final do ciclo de baixa da Selic será em 9,25% (para 2025), “acima do nível neutro estimado por nós, entre 7,5% e 8,0%”, diz o Itaú.