ASSINE
search button

Dia dos Pais

Compartilhar

Fui pai pela primeira vez aos 25 anos Depois fui pai mais duas vezes. Meus três filhos diretos nasceram de três mães diferentes. São irmãos como ou mais do que os filhos de um mesmo casal. Tenho um enteado que herdei aos 3 anos de idade e uma enteada que já chegou adulta. Tudo muito confuso, mas muito simples. O elemento comum a eles todos, que me perdoem as mães, sou eu, o pai. 

Acho que sou um pai bacana. Cometi meus erros como todos, mas não cometi os piores, os mais nocivos. Aprendi a ser pai cedo e me formei numa geração que viveu as transformações de 1968 com 18 anos de idade. Fiz parte, talvez, da primeira leva de pais com a cabeça diferente. Com a experiência transformadora que vivi depois dos 18, certamente virei um pai melhor e entendi que a liberdade é o elemento fundamental na relação. O filho saber que tem o caminho livre e, ao mesmo tempo, a certeza do olhar presente e parceiro do pai é tranquilizador. As escolhas têm seu tempo. Não é possível programar a vida de um filho de acordo com nossos desejos. Também acho muito estranho ter planos para uma vida que não é a sua. Estou ali, ao lado, solidário e conselheiro, mas aquela vida não é minha. Partiu de mim, mas tem todas as estradas do mundo pra escolher. 

Em algumas palestras que dei via, o semblante angustiado e aflito de certos alunos pré-vestibulandos na hora de escolher o que fazer. Muitos seguiam, a contragosto, a exigência dos pais. Outros, o que achavam que ia dar mais dinheiro e ainda outros, perdidaços, não sabiam pra onde ir . 

Aos 18 anos, não há como saber o que fazer da vida. É preciso dar tempo ao tempo. Meus três filhos fizeram e continuam fazendo suas escolhas no tempo delas. Pararam de estudar, voltaram, mudaram de profissão, mudaram de cidade e continuam garimpando o caminho a seguir. Ficar de longe foi uma maneira de ser parceiro. Deixar que a escolha viesse e que a gratificação financeira fosse uma consequência, um ensinamento. Como dizia meu analista Giovanni Gangemi, tudo que se pode comprar com dinheiro pra mim é barato. Prefiro comprar coisas com sentimentos, verdades, amor e maneiras de pensar. Meus filhos sabem que têm em mim além de pai, e sobretudo como pai, um conselheiro. Sempre estive pronto pra responder a eles e aprender com eles sobre questões variadas. 

Mas fico feliz mesmo quando a minha história é o alvo da admiração deles. Acabei de entregar para impressão o livro “Memória do traço”, que conta minha trajetória profissional desde os anos 1960. Fiz o livro com a parceria do Vitor, o filho do meio, a capa foi idealizada pelo Diego, o mais velho, e a leitura crítica que me envaideceu foi recentemente feita pelo Caio, o mais novo. 

É a minha realização como pai. Diego, Vitor, Caio, Adolfo e Nina fazem parte deste time vencedor. Tom e Francisco, os netos, já estão no banco de reservas. Que continuem jogando assim, pra frente. Ah, ia me esquecendo do mais novo integrante da família. Não é filho, mas é querido igual. Joca, bulldog francês que mudou minha opinião sobre animais domésticos. Sempre tive cachorros que moravam fora de casa. Pastores, labradores e vira-latas. O Joca é o primeiro a conviver comigo dentro de casa e é uma paixão, paixão de pai velho, de pai bobo.

__________

Charge de Miguel Paiva na capa do JB deste domingo