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Revivendo um passado que permanece atual

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Dentre os inúmeros amigos que, gentil e voluntariamente, me trazem informações para que eu as escreva, neste espaço que ocupo aqui no JB desde 1968, devo destacar o jornalista de notável independência Alexandre Garcia. Pois bem, foi dele que recebi o e-mail, tema deste artigo, “O transporte no Rio”.Trata-se de um filme de Jean Mazon, narrado pelo inigualável locutor Luiz Jatobá. Nele é enfocado o trânsito dos anos 50, segundo o narrador, uma verdadeira visão de Bangkok. Realmente aparecem os trens lotadíssimos, com pingentes em suas portas e janelas, como se via nos filmes sobre o que ocorre por lá. Os bondes, chamados no filme de heróis do passado, praticamente escondidos pela montanha de pingentes nos seus estribos e até na sua frente e traseira. Nada a dever a Bangkok e o que hoje se vê na Índia. Argumentava o roteiro do filme que a impossibilidade de  se aumentar o número de vagões dos bondes, sob o risco de entupir as ruas, propiciou o aparecimento, segundo o locutor, dos abomináveis mini ônibus, chamados de “lotações”, capazes de ocupar quase o mesmo espaço dos ônibus de então, carregando um número insignificante de passageiros.

Criticavam a manutenção destes veículos, pertencentes a pequenas empresas, e a maneira como eram conduzidos no meio do tráfego. Para enfatizar o que criticavam, exibem uma filmagem do interior de um destes lotações, onde se pode ver as loucuras que aconteciam, circulando em vias super lotadas e enfrentando bondes legalmente na contramão do sentido único da via. Como comentário jocoso, a observação de que o anjo da guarda dos passageiros deveria haver saltado após as primeiras loucuras do motorista.

As cenas são de arrepiar, e o que não se sabia naquela época é que estas pequenas empresas se transformariam em mais de uma centena de empresas de ônibus, disputando entre si o rendoso negócio do transporte público deficiente.

Toda esta reportagem, muito bem filmada, foi realizada para promover a unificação do transporte por ônibus, com a introdução do “troley bus”, o ônibus elétrico, então considerada a grande solução. Mais do que os novos meios de transporte, inclusive ônibus convencionais, maiores e mais confortáveis, a unificação destes serviços era a fórmula mágica capaz, segundo texto do narrador, de fazer do Rio realmente a Cidade Maravilhosa.

São passados mais 60 anos desde que este filme foi exibido como publicidade de um lobby, dos ônibus elétricos. Neste período formou-se um lobby mais forte, o das empresas de ônibus que conseguiram a aberração de termos um metrô, que não conseguiu extinguir algumas linhas de ônibus, muito ao contrário, com ele concorrem ainda agora reforçadas com o BRT.

Conseguiram eliminar o aviso de LOTADO que, acreditem, já existiu nas janelas dianteiras dos ônibus, a fim de garantir um transporte confortável para seus usuários, chamados pelos seus proprietários como “cadáveres” que, hoje são transportados como gado. 

Se  refizerem o filme, de mais de sessenta anos, adaptado com cenas modernas e atuais, pouco ou nada muda, inclusive com as vans substituindo, com vantagem, os lotações de outrora.

Ao câncer, plagiando o presidente Barack Obama, referindo-se aos fanáticos  islamitas,  que se institucionalizou com a  exploração como excelente negócio lucrativo, o transporte de massa, por ônibus, não interessa que ele seja eficiente. Quanto mais lotado e maior a demanda, melhor. Capaz até de permitir, em horários fora dos de pico, a circulação de ônibus praticamente vazios. Tudo isto acontece sob os olhares complacentes, para não dizer coniventes, do poder constituído, eleito por nós, que deveria zelar para estirpar este, repito câncer, que corrói o trânsito de nossa cidade.

 A confirmação do que aqui escrevi foi vista nas respostas dos candidatos ao governo do Rio às possíveis providências no item transporte, aliás, o de maior interesse dos telespectadores, no último debate na TV.