ASSINE
search button

Conformismo inaceitácel

Compartilhar

Geraldo Menezes Côrtes, grande diretor de Trânsito, durante o governo do Presidente Dutra, na segunda metade da década de 40, costumava dizer, e se tornou um conselho utilíssimo aos seus sucessores: “Não podia evitar os congestionamentos fortuitos mas, tinha o dever de eliminar os permanentes”. Sempre me lembrei disto, quando tive o privilégio de ser diretor de Trânsito no antigo Estado da Guanabara e voltar e exercê-lo no primeiro governo do novo Estrado do Rio. Por assim pensar, telefonei a uma excelente profissional, da CET Rio, ainda do meu tempo de seu primeiro presidente, ponderando com ela a atual situação de calamidade do trânsito do Rio, em especial para nós, moradores da Barra. 

Ainda nesta terça que passou, um jornal vespertino da TV, que sempre noticia o tempo de viagem entre os bairros do Rio e Centro, informava que o tempo Centro –Barra, no pique vespertino, era de duas horas e meia, ou seja um rendimento abaixo de 5% da malha viária. Atingia o menor índice de sua história.

Recebi como resposta que o que se podia fazer, se enfrentávamos, um mutirão de obras?

Não me parece que haja alguma obra de vulto no caminho ao qual me referia e, mesmo que houvesse, segundo Menezes Cortes, é dever da autoridade resolvê-lo ou minorar o seu efeito.

Lembrei-lhe que, na nossa gestão, durante o governo Negrão, enfrentamos centenas de obras da Light, no seu esforço de substituir as suas caixas de força subterrâneas, impedida que fora de fazê-lo no governo anterior, porque iria atrapalhar o trânsito, pois que se situavam no meio das principais vias de escoamento.

Introduzimos, e o Contran adotou no então Código Nacional de Trânsito, a sinalização de obras que eu vira na Holanda, de tapumes com dois metros de altura, a fim de serem vistos de longe, em forma de cunha, virados para o sentido oposto do tráfego, facilitando o escoamento das correntes de tráfego. Eu costumava dizer que estávamos construindo gargalos de garrafas de vinho Bourgonhe, suavizando o atrito das partículas do fluido em escoamento.

Só uma vez foi necessário aumentar o comprimento do gargalo, fazendo-o como nas garrafas dos vinhos do Reno, tal o volume que precisava se espremer, na exígua largura da via Voluntários da Pátria, face à construção de um pilar para um novo viaduto, em frente a sua saída, na Praia de Botafogo.

Os cariocas, no entanto, que não perdem a oportunidade de uma boa gozação, os chamavam, em face da minha origem naval, de “navios do Celso”.

Enfrentamos o fechamento do Corte Cantagalo por causa das obras de escoramento das pedras da montanha adjacente, que ameaçavam despencar e, não havia o túnel Rebouças.

Enfrentamos, também, o fechamento  de toda a rua Senador Vergueiro, para obras da Light.  Ainda, enfrentamos o asfaltamento das pistas da Avenida Atlântica, forçando-nos a escoar todo o tráfego pela Avenida N.S. de Copacabana e a rua Barata Ribeiro, utilizando o artifício de desligar, nas horas de pico, todos os semáforos e tocar o tráfego “no braço” utilizando os excelentes motociclistas da, ainda viva, Guarda Civil, antiga federal.

Finalmente , conseguir acomodar as variações necessárias ao longo da tubulação oriunda da Praia de Botafogo, até Copacabana, para permitir o alargamento da Avenida Atlântica, obra extraordinária, com o bombeamento da areia daquela praia.

Procurávamos seguir o aconselhamento do grande Menezes Cortes, o primeiro diretor de Trânsito a priorizar as soluções de engenharia sobre as de policiamento.

Jamais nos conformamos com a situação do fato consumado e, se ela acontecesse, não teríamos outra alternativa senão de deixar o cargo, por reconhecermos a nossa impossibilidade de cumprir a tarefa a nós confiada.

Para que não fiquemos só relembrando os bons tempos, onde a direção do trânsito no Rio se fazia presente nas ruas ou, onipresente, voando de helicóptero, pois não havia supervisão por câmeras de TV, com o entusiasmo que o cargo exige, por ser, como escreveu o governador Negrão, em gentil dedicatória em retrato a mim presenteado, ao final de seu governo, classificando o cargo que eu exercera, de “impossível e sensacional”, vou sugerir, como é de meu hábito, sem a esperança de que seja ouvido, ou melhor, lido.

A cidade de Tel Aviv, em Israel, aumentou a sua capacidade viária em 25%, para suprir o apenas 10% deixado de área viária, pelos ingleses, instalando um sistema semafórico, comandado por computadores, com informações”on line”, proporcionando nos eixos principais o sistema de “onda  verde”.

Ninguém me contou eu vi, “in loco”, em 1968, quando por lá andei, a estudos, e foi-me explicado pelo seu inventor, professor, Kaljustic, judeu de origem russa que, juntamente com o professor Meyer, de origem alemã, de Colônia, o instalaram na cidade então mais importante de Israel, e sua capital. Tive o privilégio de dialogar com estes dois gênios. 

Além deste recurso que, sinceramente, não sei por que ainda não se instalou no Rio, existe o sistema URV, Utilização Racionada das Vias, capaz de reduzir em até 80% o volume de carros nas horas de pico, na medida em que elimina o carro transportando somente o seu motorista, hoje cerca de 96% do volume circulante.

Ainda é capaz de gerar elevada renda para subsidiar o transporte público, livrando o povo dos aumentos periódicos. Para meu orgulho, este sistema não é importado nem criado por nenhum judeu, foi por mim, carioca, com raízes em Bangu mas, foi por pouco, uma vez que os Franco são “cristãos novos”. Ex Seferdines, expulsos da Espanha no final do século XV e, sua maioria foi para Portugal, antes de emigrarem para a América do Sul, dois séculos e meio depois.

Não posso e não devo aceitar, em respeito aos meus dignos colegas que exerceram o “impossível e sensacional” cargo que, repito, tive o privilégio de ocupar, e o fizeram dando o melhor de seus esforços, que hoje exista um conformismo, com a atual conjuntura, desesperante.

Sigam o moto de Sir Wiston Churchill, no pior momento para a Grã Bretanha, durante a Segunda Guerra Mundial: “ We Shall Never Surender!