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Moradores voltam para casas condenadas pela Defesa Civil em Teresópolis

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Rio de Janeiro - A marca da Defesa Civil para a demolição na porta de casa não impediu o pedreiro Cristiano de Almeida de voltar ao local onde morava no bairro de Campo Grande, em Teresópolis - cidade atingida pelas chuvas de 12 de janeiro. Há três meses do desastre, moradores sem ter para onde ir começam a voltar para o local, que ficou destruído com o transbordamento de um rio.

"Sou nascido e criado aqui. Minha esposa está aqui. Ficamos em casa de parente, mas chega uma hora que não dá mais. Cansei de esperar o aluguel e a casa da prefeitura. Isso aqui nunca aconteceu antes e eu estou apostando que vai demorar para acontecer de novo", afirmou Cristiano, que já solicitou o religamento da energia elétrica e do telefone para completar a mudança.

O caminho até Campo Grande a partir do centro de Teresópolis ainda guarda os sinais da força das chuvas de janeiro. Ruas estão barro puro, apesar de pontos de obras. Há casas soterradas, marcas de lama e destroços por toda a parte. No trajeto de 10 quilômetros, o bairro de Posse, que fica no caminho, já parece abandonado, com casas vazias, comércio fechado, silêncio e quase ninguém na rua.

A situação em Campo Grande impressiona pela quantidade de pedras gigantescas que apareceram ao longo do curso do rio e que derrubaram dezenas de casas. Em algumas condenadas ou parcialmente destruídas ainda se vê móveis e objetos domésticos.

"A sensação para quem chega agora e vê isso é de que a tragédia acabou de acontecer", disse o eletricista Márcio da Silveira, que foi verificar pela primeira vez depois da tragédia, a situação de sua casa.

Assim como Cristiano de Almeida, o estudante Iago Ferreira, de 18 anos, conta que pretende voltar com os pais para sua casa nos próximos dias. Mesmo com a vizinhança destruída, inclusive casas muito próximas à do garoto, de frente para o rio, ele conta que a situação na casa de parentes está insustentável. "Fica muito apertado, não dá", afirmou, ao vistoriar o imóvel.

No bairro de Posse, a cozinheira Dalva Abreu Bosso, de 52 anos, reconstrói seu lar, rodeada de casas soterradas e do comércio abandonado. Quase todas as casas da rua estão vazias. Como não conseguiu o aluguel social da prefeitura, faz a reforma com o dinheiro do fundo de garantia, já que também perdeu o emprego com a destruição do condomínio para o qual trabalhava.

"Se eu tenho medo? É claro que tenho. Ainda sinto o cheiro de mato que ficou, das árvores arrastadas pelas chuvas. Ouço o barulho da água arrebentando os muros e lembro do céu no dia seguinte ao da tragédia, completamente fechado, como se estivesse nos ameaçando", disse. "Ainda me arrepio de lembrar, mas eu vou morar onde?", completou.

Além da preocupação com as casas, os moradores cobram ações da prefeitura para tornar os bairros locais "mais habitáveis". É preciso reconstruir estradas e remover as pedras que apareceram no curso do rio, afirmam. "O Japão construiu uma estrada em cinco dias”, disse Dalva lembrando da reconstrução de parte do país asiático depois de um terremoto seguindo de tsunami. “Parece que aqui vamos levar décadas e não chegaremos nem perto do que fomos", acrescentou.