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XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea

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Continua a Bienal de Música Brasileira Contemporânea, evento que torna o Rio de Janeiro como a capital da música contemporânea por uma semana

Concertos de hoje, às 19h

Sala Cecília Meireles

Largo da Lapa, 47 - Lapa

Entrada franca 

Obras apresentadas

Marcos Lucas Ricercare

                          solo Ayran Nicodemo, violino

Edino Krieger - Cadência para dois violoncelos

                          Ricardo Santoro e Paulo Santoro, violoncelos

Sérgio Roberto de Oliveira - Aos Santos- Oro

                                              Ricardo Santoro e Paulo Santoro, violoncelos

Mauricio Dottori - Glaciers, soleils d’argent, flots nacreux, cieux de braises

                              Sergio Barrenechea, flauta

                              João Senna, viola

                              Vanja Ferreira, harpa

Tauan Gonzalez Sposito - Introspecções II

                                          Elione Medeiros, fagote

                                          Rômulo Barbosa, flauta

                                          Ayran Nicodemo, violino

                                          Vanja Ferreira, harpa

João Isaac Marques - Se eu me esquecer de Ti, Jerusalém

                                  Doriana Mendes, voz feminina

                                  Vanja Ferreira, harpa

                                  Claudia Grosso, violoncelo

                                  Natália Terra, contrabaixo

Guilherme Bertissolo - Fumebianas Nº 2

                                      Sergio Barrenechea, flauta

                                      Cesar Bonan, clarineta

                                      Fabio Adour, violão

                                      Lucia Barrenechea, piano

                                      Ayran Nicodemo, violino

                                      João Senna, viola

                                      Pablo de Sá, violoncelo

                                      Larissa Coutrim, contrabaixo

                                      Vanja Ferreira, harpa

                                      Alexandre Schubert, regente

Santiago Beis Endomysium - Quarteto Brasiliana

                                                Willian Isaac e Daniel Passuni, violinos

                                                 Samuel Passos, viola

                                                 Paulo Santoro, violoncelo

Caio Facó Gesualdo - Quarteto Brasiliana

                                    Willian Isaac e Daniel Passuni, violinos

                                    Samuel Passos, viola

                                    Paulo Santoro, violoncelo

                                    Alexandre Brasil, contrabaixo

 

Luigi Antonio Irlandini - Peace, my heart

                                        Coro Boca Que Usa

                                        Danielly Souza, regente

 

Alexandre Schubert - Memento Mori

 

Marco Feitosa - Missa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida

                          Coro Madrigal Contemporâneo

                          Danielly Souza, regente

 

Compositores comentam suas obras

Fonte: Catálogo Oficial do evento

Ricercare: foi composta em 2016, e dedicada ao violonista Ayran Nicodemo, para apresentação na XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea. A obra segue a ideia básica da forma do Ricercare barroco, ou seja, a da busca e pesquisa - às vezes em caráter improvisatório -  por um tema, gesto musical, colorido, ritmo, textura ou tonalidade. Um pequeno tema de 14 compassos abre a obra;  seguem-se então seis variações que acrescentam, distorcem ou “liquidam” a mesma, explorando principalmente aspectos texturais e timbrísticos.

Edino Krieger – Cadência para dois violoncelos: encomendada pela Funarte para a XXII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, e composta em 2016, é dedicada ao Duo Santoro, pelo transcurso dos 20 anos de suas atividades. Como seu título indica, é uma obra de caráter virtuosístico, improvisatório, num diálogo realizado com liberdade, em que estruturas rítmico-melódicas se sucedem em tempo livre, sem indicação de compasso.

Sérgio Roberto de Oliveira – Aos Santos Oro: in memoriam do compositor falecido em 2017: “Conhecendo os meus amigos Santoro e seu bom humor, o trocadilho foi inevitável. Se a obra era para eles e para os Santos: “Aos Santos Oro”. Apesar da brincadeira do título, uma obra muito séria, imbuída de um sentimento pela tradição da música e por uma religiosidade profunda. O primeiro movimento, Fuguetta, rende homenagens à tradição do contraponto e fuga dos grandes mestres da(s) Igreja(s). É certamente um dos momentos mais técnicos de todo o meu catálogo de composições: precisava honrar os Santos de uma forma que eles entendessem. E estar no campo de Palestrina e Bach não é moleza… O segundo movimento, Oração, é bastante lírico e dramático. Me coloco de joelhos diante do divino – pouco importa de qual religião – pedindo minha cura. A linha do violoncelo dois é uma versão contemporânea (totalmente distorcida) do Prelúdio da Suíte Nº 1 para violoncelo de Bach. A linha do 1º violoncelo é totalmente serial. O terceiro movimento, Júbilo, é uma previsão leve e otimista do momento da minha cura completa – em todos os campos da minha vida. É um frevo – minhas raízes na música popular afloram – e possui um breve momento bem humorado da inclusão de uma Tarantela, para lembrar que os Santos em questão vêm de uma tradição italiana.”

Mauricio Dottori – Glaciers, soleils d’argent, flots nacreux, cieux de braises: há no Bateaux ivre, de Arthur Rimbaud, um verso – Geleiras, sóis de prata, correntes nacaradas, céus de brasas – que soa para mim como uma síntese de nossa absurda navegação por este mundo. Foi esta a minha inspiração para este trio afetuoso de harpa, flauta e viola, dedicado a meu sobrinho Gabriel, que se foi muito antes da hora.

Tauan Gonzalez Sposito – Introspecções II: faz parte de um ciclo de composições sobre a complexidade da comunicação humana. Parte do fato de que para muitas pessoas expor ideias e travar conversações se torna uma ação muito difícil, quase inalcançável. Busca representar o desenvolvimento de uma ideia composicional: a fagulha surge sem resultados imediatos no início; desenvolvendo, criam-se brainstorms e fluxos de pensamento, onde uma ideia emenda em outra, atingindo um ponto muito diferente do inicial. O grupo se comporta como pessoas que preferem monologar consigo mesmas. Apesar dos diálogos entre os integrantes, são momentos intimistas que predominam, em especial os do fagote: à frente, representa a pessoa imersa em suas introspecções; os outros participam de seus pensamentos.

João Isaac Marques – Se eu me esquecer de Ti, Jerusalém: após a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, em 586 a.C., os judeus foram levados e mantidos em cativeiro na Babilônia. Lá os guardas zombavam, pedindo para que cantassem seus cânticos jubilosos de outrora. Mas os judeus se recusavam; protestavam em gesto simbólico, pendurando seus instrumentos em salgueiros às margens dos rios. Atribuído ao profeta Jeremias, ’Im’eshkahekh Yerushalayim, o Salmo 137 é um lamento icônico do povo judeu que, mesmo em diáspora, jamais deverá deixar-se obliterar em seus corações símbolos de sua origem. A obra é inspirada no pesar de um povo exilado, saudoso e preenchido de uma esperança latente de retornar à sua amada pátria; a terra santa de Sião, Jerusalém.

Guilherme Bertissolo – Fumebianas nº 2: segunda peça da série Fumebianas (da Fumeb, Fundação Mestre Bimba), onde desenvolvi ideias e processos relacionados a uma pesquisa sobre a relação entre música e movimento na Capoeira Regional. Diversos materiais foram extraídos diretamente do contexto, tais como material melódico, texturas, escalas etc. Entretanto, é no campo conceitual que a obra propõe um universo poético profícuo, a partir dos quatro conceitos inferidos do contexto: ciclicidade, incisividade, circularidade e surpreendibilidade.

Santiago Beis – Endomysium: esta obra é inspirada no retrato do músculo estriado e as suas características morfológicas, para a instrumentação do quarteto de cordas. Refere-se, em diversas situações sonoras, às expressões humanas do movimento e da paralisia: tensão, relaxamento, atrofia, paralisia e estímulo sem resposta. Os fatores que imprimem o mundo microscópico do seu organismo também afetam visivelmente o corpo inteiro da composição: a expressão da força ou da languidez, a textura lisa do esquecimento e o contínuo fluxo da diferença, em contraposição, complementação ou em direção à síntese, junto ao caráter estriado, seccional e articulador do impacto da impressão de que algo mudou. A significação do salto e do passo, segundo o compositor.

Caio Facó – Gesualdo: esta peça é baseada na vida e na obra do compositor italiano renascentista Carlo Gesualdo di Venosa. Em seus textos, Gesualdo frequentemente utilizava termos para representar os extremos da emoção humana: amor, dor, morte, êxtase, agonia e outros vocábulos que não eram comuns nos textos das músicas dos compositores de seu tempo. Sua música expressava um dramatismo intenso, com dissonâncias e harmonias raras para aquela época; e que foram exaltadas, séculos depois, por compositores de vanguarda como Igor Stravinsky. Sua vida também foi marcada por muitos dramas. No ano de 1590, Gesualdo assassinou sua esposa e Fabrizio Carafa, terceiro Duque de Andria. Esta obra se baseia em todos estes contrastes presentes em sua vida e em sua obra, que são aqui expostos sob uma perspectiva contemporânea.

Luigi Antonio Irlandini – Peace, my heart (2007): é uma obra polifônica para coro com o poema no. LXI de The Gardener, de Rabindranath Tagore. Eis uma tradução livre do original em inglês, feita pelo compositor: Paz, meu coração, que o momento da separação seja suave / Que não seja uma morte, mas completeza / Que o amor se dissolva em memória e a dor em canção / Que o vôo pelo céu termine no fechar das asas sobre o ninho / Que o último toque de tuas mãos seja gentil como a flor da noite / Permanece, ó Belo Fim, por um momento, e diz tuas últimas palavras em silêncio / Eu me inclino diante a ti e levanto minha lâmpada para iluminar o teu caminho.

Alexandre Schubert – Memento Mori: escrita para coro a 16 vozes individuais, tem como base textos que nos levam a refletir sobre o momento de transição da vida para o plano espiritual. No primeiro movimento são usadas texturas em camadas. O segundo movimento é uma reflexão sobre a continuidade da existência após a morte. Dies Irae traz fragmentos repetidos e acumulativos criando tensão. A seção seguinte é um apelo para que não haja a “morte eterna”. O terceiro movimento é baseado no Novo Testamento (João, 3) em que Jesus e Nicodemus conversam sobre a necessidade de renascer. O último movimento traz a frase do dólmen de Allan Kardec, no cemitério de Père Lachaise em Paris, indicando que o processo evolutivo não cessa com a morte do corpo físico, mas continua - em espírito - em sucessivas encarnações.

Marco Feitosa - Missa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida: escrita para coro misto e órgão, a composição é uma obra litúrgica dedicada à padroeira do Brasil, cuja imagem foi encontrada, em 1717, por pescadores no Rio Paraíba do Sul, motivo pelo qual a Igreja Católica celebra, em 2017, o Ano Nacional Mariano e o Jubileu 300 Anos de Bênçãos. A obra consiste numa “missa étnica”, composta em cinco movimentos que correspondem ao tradicional Ordinário da Missa: I. Senhor, II. Glória, III. Credo, IV. Santo, V. Cordeiro de Deus. Em geral, foram empregados, nos respectivos movimentos, diversos elementos musicais relativos aos três principais povos ou etnias que compõem o tecido social da população brasileira: os indígenas, os europeus e os africanos. É o retrato musical de um povo através de sua fé, devoção e religiosidade.