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Conversando com o maestro Marcelo Lehninger

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O maestro carioca Marcelo Lehninger está no Rio de Janeiro e com uma missão muito importante no palco da Sala Cecília Meireles, que é reger sua mãe, a pianista Sonia Goulart.

Um grande concerto terá duas apresentações, com dois artistas e dois corações que um dia bateram juntos. Sonia Goulart se apresentou grávida, quando esperara seu  filho Marcelo Lehninger, ocasião onde dois corações bateram juntos em um só corpo, e as mãos executavam o Concerto N.2 em Fá Menor Op. 21 de Frédéric Chopin. Para grande alegria da platéia carioca, será a primeira vez que o maestro Marcelo Lehninger regerá sua mãe, extamente na cidade onde nasceu,e a mesma obra que um dia “ouviu” no ventre de sua mãe. Os concertos serão realizados hoje e dia 30, às 20h, na Sala Cecília Meireles e no programa além do concerto para piano, a execução da Sinfonia N.5em Dó Menor Op. 67 de L.V.Beethoven.

Lehninger é um dos mais importantes talentos da jovem geração de regentes brasileiros. Assumiu invejados cargos nos Estados Unidos, país onde vive atualmente e tem sua família. Para os leitores conhecerem melhor essa nova estrela da regência que brilha nos palcos e pelo mundo, convidamos Lehninger hoje para nossa conversa.

Após uma brilhante vivência em Boston como assistente e regente associado da Boston Symphony Orchestra, qual é o seu posto no momento?

Fiquei cinco anos na Sinfônica de Boston, três como regente assistente e dois como associado. O contrato de assistente em Boston é de três anos no máximo, no entanto, como eles queriam que eu ficasse mais tempo com a orquestra, me ofereceram um novo contrato de dois anos como associado. Foi uma honra ter trabalhado lá por tanto tempo (entre a lista de poucos regentes que tiveram este cargo no passado consta o nome de Michael Tilson Thomas, nos anos de 1969 e 1970). Eu ocupei o cargo concomitantemente com a posição de diretor musical e regente titular da New West Symphony, em Los Angeles, até que assumi no ano passado a direção musical e regência titular da Grand Rapids Symphony, no Michigan, onde estou atualmente. Estou muito feliz com esta posição; a Sinfônica de Grand Rapids é uma importante e prestigiada orquestra nos Estados Unidos. Em dois anos a orquestra completará noventa anos de existência e na lista de diretores musicais passados está o grande regente Semyon Bychkov. Este posto está me dando a oportunidade de executar projetos importantes, como o concerto que faremos em abril de 2018 no Carnegie Hall em Nova York com o pianista Nelson Freire, além de outros projetos em andamento de turnês e gravações. 

Sua mãe é uma grande pianista e já tocou grávida, quando estava lhe esperando; isto é, dois corações ouvindo música em uma só pessoa. Quando rege sua mãe, o que prevalece: o amor pela mãe ou o cérebro a serviço da música? 

Eu diria que os dois. Na hora do concerto fico muito concentrado na música, mas evidentemente sinto uma emoção especial por estar regendo a minha mãe. O interessantes é que eu entendo suas intenções musicais muito naturalmente; eu sinto o que ela vai fazer, telepaticamente... não sei explicar! Além da relação mãe e filho, tivemos uma cumplicidade musical desde sempre. Primeiro uterinamente, depois eu cresci a ouvindo estudar e se apresentar. Quando eu estudava violino fiz muita música de câmara com ela, e mesmo quando passei para o piano tocamos muito juntos (a quatro mãos ou dois pianos). Minha mãe viajava muito para turnês de concertos e tinha muita disciplina pra estudar piano. Assim sendo, quando criança, para ficar perto dela, eu morava em baixo da cauda do piano. Lá tinha a caminha do cachorro, meus brinquedos, fazia os deveres da escola... então você pode imaginar a comunicação musical que eu desenvolvi com ela!

Fale um pouco dos concertos dos dias 29 e 30 de setembro próximo, onde vocês estarão se apresentando na Sala Cecília Meireles. 

Este concerto na Sala Cecília Meireles tem vários fatores importantes para mim. Primeiro a obra; o 2o Concerto de Chopin foi justamente a peça que minha mãe tocou grávida, logo antes que eu nasci! Posteriormente, o primeiro concerto que eu assisti foi na Sala Cecília Meireles quando ela tocou o 1o Concerto de Brahms e eu tinha apenas três anos de idade. Depois a vi tocar diversas vezes na Sala, mas estas apresentações de sexta e sábado marcam a primeira vez que rejo minha mãe no Rio de Janeiro, cidade onde nasci. Já nos apresentamos em São Paulo, Argentina, EUA, mas nunca no Rio. Além disso, a Orquestra Petrobrás Sinfônica foi a primeira orquestra profissional que eu regi, na Sala Cecília Meireles, há dezesseis anos! Portanto, são muitos ingredientes para fazer destes concertos eventos marcantes. Agradeço o convite do pianista Miguel Proença, atual diretor da Sala Cecília Meireles, por proporcionar tão especial ocasião e conto com a presença de todos.

A coluna agradece a conversa, maestro Marcelo Lehninger.