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A magia de Joyce DiDonato

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Crítica do recital da mezzo soprano Joyce DiDonato e pianista Craig Terry

Dia 28 de abril de 2016,às 20h no Theatro Municipal do Rio de Janeiro 

A Série Dell’Arte de Concertos Internacionais começou com chave de ouro sua temporada de 2016,trazendo ao palco do Theatro Municipal do Rio de Janeiro a aclamada mezzo-soprano americana Joyce DiDonato com a parceria do pianista também americano Craig Terry. 

As divas americanas possuem sempre técnicas perfeitas,presença de palco indiscutíveis,carisma então nem se fala,e DiDonato é a verdadeira prova de

extrema competência e profissionalismo. Foi possível apreciar,em seu único recital no Brasil, seu timbre de voz maravilhoso, com uma tessitura invejável e uma afinação exuberante. Como sua técnica é perfeita a artista pode dispor de todos os elementos que desejar,pois sabe como ninguém exibi-los e o mais importante tem total conhecimento dos estilos,é íntima da música de câmara que é tratada como tal,da mesma forma que a ópera tem seu tratamento específico.Para melhor entendimento dos leitores quando se canta obras de música de câmara,por exemplo,é a cantora com seu nome de batismo, mas quando se canta os trechos de ópera ou na sua totalidade,a artista encarna o personagem, dando vida ao papel que se propõe. 

O recital começou com a pura interpretação da ária “De España vengo”,da zarzuela El Niño Judio,de Pablo Luna,seguida do belo ciclo “Shehérazade” de Maurice Ravel,quando o sonho estava no palco na voz de DiDonato,com uma expressividade transbordante,traduzindo o mundo de Ravel, impressionista da cor e dos contrastes,onde o texto foi cantado com todas as dinâmicas escritas e sentidas pelo compositor, preparando já o público para apreciar um dos compositores favoritos da artista,que é Gioacchino Antonio Rossini,transmitindo a perfeição de sua realização musical  na ária “Bel raggio lusinghier” da ópera Semiramide. Mais uma vez sua técnica admirável pode ser ouvida,uma vez que e DiDonato projeta o som com um profissionalismo realmente invejável,sobretudo para quem chegou ao Rio de Janeiro na madrugada do recital,não dá o mínino sinal de cansaço,aliás façanha para poucos no planeta. 

Seu rico fraseado,aliado  ao entendimento sublime da dramaticidade do texto pode ser ovacionado nas “Tres Tonadillas em estilo antigo”de Enrique Granados. Exuberante e profunda foi a ária Lascia ch’io pianga,da ópera Rinaldo de Haendel, impecável no comportamento e no trabalho da voz. Impecável também é Rossini na voz de DiDonato,antecedendo os clássicos americanos com arranjos o pianista Craig Terry. Três foram os bis,sendo duas canções mais populares como Over the Rainbow,da trilha do filme O Mágico de Oz e  I Love a Piano,de Irving Berlin,mas o que emocionou elevando o pensamento ao infinito foi Morgen de Richard Strauss,encarnando e traduzindo o que de melhor uma voz pode realizar em pleno palco, com todas as sofisticações técnicas,fraseados impecáveis,uma expressividade ímpar digna de uma verdadeira diva que,sem nenhuma dúvida, é a mezzo soprano Joyce DiDonato. 

Deixa saudade, mostrando que verdadeiramente é possível aprender o máximo na gigantesca escola do ensino da música que são as universidades americanas. Dotada de uma beleza natural,elegante no vestir, nos movimentos, presenteada pelo destino pelo tom aveludado de sua voz aliado ao melhor da técnica e agilidade vocal,somente podemos reafirmar ser DiDonato uma grande diva do canto que deixa seu encanto e sua magia,além de muita saudade. Realmente um belíssimo e memorável recital, com a promessa de voltar no ano que vem.