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Ciclo Scriabin

Crítica dos três concertos no Espaço Guiomar Novaes, da Sala Cecília Meireles

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O estudo da música é muito difícil para se chegar ao patamar estabelecido pela qualidade de quem se propõe a ser artista. No mínimo dez anos são necessários para uma formação desejável,isto é, procurar vencer através de muito estudo árduo e penoso,as dificuldades tanto do instrumento quanto o mais complicado que é estudar o som,sempre buscando a infindável palheta sonora que muitos tentam,mas poucos chegam ao invejável domínio do som,e mais,cada vez mais exercer o controle sobre si mesmo,não confundindo virtuosidade com correria desenfreada e falsa idéia de virtuosismo. Faço esse preâmbulo para pontuar que tocar é uma dádiva,mas o trabalho árduo aliado ao  mais puro cerebralismo e lucidez são os atributos para se formar artistas de qualidade.

O Instituto Dell’Arte através da expressiva curadoria da empresária  Myrian Dauelsberg,que antes de tudo é uma das mais carismáticas professoras de piano do país,formando gerações de inúmeros alunos vencedores da maioria dos concursos de piano nacionais,idealizou em parceria com a Sala Cecília Meireles,o Ciclo Scriabin. Foram três concertos ao longo do mês,onde o melhor de seus alunos coincidentemente masculinos,brilhou nas páginas de Scriabin e Liszt. Os concertos temáticos tiveram sempre explicações sobre os compositores e as obras que seriam executadas pelos ensinamentos de Myrian e no palco estiveram os pianistas Patrick Rodrigues,Aleyson Scopel, João Elias e Silas Barbosa. Sem dúvida Patrick Rodrigues fez um imenso progresso,sobretudo do primeiro recital para o segundo,quando foi possível apreciar ainda mais seu desenvolvimento técnico,textos muito bem lidos e realizados além do mais sublime que foi poder ouvir a palheta sonora que multiplicou suas possibilidades de execução,produzindo pianíssimos de grande qualidade e o principal,o toque dourado que tanto se deseja  e o mais verdadeiro é a postura do pianista traduz que  o teclado não é tratado como inimigo,pelo contrário ele se encontrou e isso foi uma conquista altamente positiva. Aleyson Scopel é uma pianista muito experiente,sua intimidade com o palco e com o teclado,da mesma maneira que o cuidado sonoro reafirmam ser Scopel uma das grandes esperanças no piano nacional. Ele entra no palco,cativa logo o público,sim porque no palco se entra com um sorriso,e já se tem a certeza de que ele terá sucesso,porque trabalha duro,com extrema seriedade e sabe que a concorrência é mais dura ainda e ganha quem for o melhor e nisso ele sabe que é. Trabalha o som como um escultor da mesma forma que sabe que a estrutura das obras,o bom entendimento dos estilos e a realização são mágica pura,na intuição e no cerebralismo. 

Silas Barbosa tem uma ótima formação,e tem total conhecimento das possibilidades do instrumento,pianista muito sério e concentrado,vence as dificuldades com tranqüilidade,como foi o caso da Sonata nº5 em Fá Op.53. Gostaria de registrar que esteve presente ao segundo recital do ciclo,um dos maiores pianistas brasileiros que é Jean-Louis Steurman,ele mesmo um fantástico intérprete de Scriabin e atualmente é o  diretor da Sala Cecília Meireles. João Elias tem ótimos dedos,técnica limpa,mas ainda precisa ter o cuidado com o tratamento sonoro.

O resultado final do Ciclo Scriabin foi a exibição de uma geração de pianistas que estudam,dão um duro tremendo,precisam tocar porque é somente e exatamente no palco que se aprende a dominar emoções,medos e terrores. No palco o artista é solitário, único e ímpar e por isso ou se arrepia de paixão ou de pavor. Os primeiros aplausos são para Myrian Dauelsberg,que através de sua generosidade proporcionou aos quatro pianistas a oportunidade de ter o desejo de realizar, de vencer os obstáculos de todo tipo. Meus segundos aplausos são para os pianistas, pelo prazo curto com que estudaram as obras, horas de ensaios, de repetições, e sobretudo da vontade de vencer que é o principal. Nem sempre querer é poder mas nesse caso,todos venceram e fizeram um Ciclo Scriabin,que com certeza deixa saudade,mas acho que será por pouco tempo, porque com certeza Myrian Dauelsberg já deve estar idealizando novos ciclos para a sorte de todos.

O BRAVO da coluna.